Fomos à Graça. De SIGA, para evitar ter problemas em estacionar o carro, pois não há muito espaço naquelas bandas. Tivemos sorte porque chegamos mesmo a tempo de ver passar a romagem. Ao tempo que não assistia a este ritual. Que flashback! Só faltou ter percorrido a vereda desde o Dragoal, tal como fazíamos nesses tempos tenros e pueris.
Subir à Graça além de fazer relembrar a lenda, segundo a qual uma imagem de Nossa Senhora terá aparecido por cima de uma rocha e que, apesar de ter sido levada para a matriz, voltou a reaparecer no mesmo local dias mais tarde, é também comungar do espírito de resistência e perseverança, pois a capela atacada por corsários e vítima de pilhagem. Terá ficado em ruínas, tendo sido reerguida com esforço dos irmãos da Confraria. Ficou concluída em 1951 e, desde então, a Senhora é celebrada com as devidas honras. Actualmente, são cerca de 400 irmãos, sendo esta a Confraria com maior representação no Porto Santo, confirmando-se, assim, a grande devoção.
A capela estava cintilante. É essa a palavra certa. Dou os parabéns a quem a decorou pois soube aliar simplicidade e elegância com mestria. Dou também os parabéns a toda a equipa que preparou a festividade e cujo esforço mantêm viva esta festa em honra de Nossa Senhora da Graça, que não sendo a padroeira, reúne, contudo, muitos devotos e entusiastas.
Antes de encontrar mesa para poder petiscar, fomos à barraquinha das rifas. Até parecia que tinha 15 anos. Saiu-me um lenço de pescoço que coloquei logo, pois o vento não dava tréguas. O Manel ficou todo contente com o seu ovo Fabergé e até o colocamos na mesa de plástico só para dar um ar mais fino à refeição: moelas e fígado. Estão a salivar, aposto!
Apesar da música estar animada, poucos dançavam. Porém, e como sempre, o ponto alto foi o fogo de artifício que estalou no ar, assustando a criançada e alegrando o coração dos mais velhos que agradecem, a cada estalo, mais um ano de vida e mais uma Graça. Cada um de nós trouxe um colar de rebuçados ao pescoço. Há que manter a tradição, mesmo perante o olhar incrédulo dos nossos rebentos que acham tudo isto despropositado e pouco adequado à (nossa) idade.
Na verdade, estou de coração e alma cheia. De barriga cheia estou quase sempre, como já se aperceberam. Fui às festas todas (e ainda faltam algumas): S. Pedro, Espírito Santo, Graça, Vindimas. O verão aqui também se faz de tradição e de vivências que passam de geração em geração.
Mas Agosto é um verdadeiro caos. Insuportável. Tanto do ponto de vista dos constrangimentos na vida quotidiana, como da exaustão (material e pessoal) que causa a entrada de 4x mais do habitual número de pessoas. É trânsito a mais, é gente a mais, é barulho a mais e sobretudo é civismo a menos. Porém, e porque este chão dourado é brando mas benevolente há uvas, melões, melancias e figos. Tabaibos só com casca, para grande desgosto meu que estou habituada aos mimos do meu pai que os descasca e coloca no frigorífico para eu os comer. Digo-vos que não há sabores como estes. Só tenho pena de ter falhado a vindima do Cardina. Foi mais cedo. Aliás, e se estiverem atentos, nestes tempos que correm “é tudo mais cedo”. Até as marés de Sizígia (gordas e fartas) que ocorrem habitualmente em Setembro já cá estão e fazem muros e pequenas poças para delicia dos mais pequenos e até de alguns graúdos. Viva o Verão!