MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

PALAVRAS APENAS

1/08/2023 06:00

Agora não. Inventámos a sensação de culpa por não estarmos a produzir, a fazer coisas, a "aproveitar para" (desculpem as aspas, mas não sei como dizer isto de outra maneira). E ocupamos o tempo, como se não fosse essencial, parar, descansar, não fazer nada e, simplesmente, estar. Tenho saudades desses verões antigos que cheiravam a ameixas amarelas e a uvas americanas. Tenho saudades de conseguir desligar dos dias comuns - do trabalho, das preocupações, dos medos, do que que ficou por fazer, do que poderia estar a ser feito, do que.

Servem as férias para reencontrar o que de importante se perdeu, ao longo do ano: as distâncias, os horizontes, a alegria, a calma. Servem para descansar. E este é um assunto do qual andamos fugidos, como se descansar não fosse essencial para retemperar as forças e reencontrar o que se perdeu, na loucura dos dias e nos medos que a vida traz. Descansar tornou-se um verbo fora de moda, porque o importante é fazer.

Quando agosto começa (e as minhas férias estão no fim), pergunto-me como aproveitei os dias, de que modo me perdi no "fazer nada", não porque não houvesse coisas por fazer, mas com a consciência de que há muito para além do utilitário, do que é necessário, do que tem de ser.

O tempo de férias é o tempo de (se) contemplar, de olhar o que temos de graça, de "perder países", como dizia Pessoa, de procurar fora de nós as respostas para as perguntas que nos secam a garganta, de nos encontrarmos com o silêncio, de modo a, (depois, ao longo do ano) sabermos onde moram as palavras que nos hão de salvar.

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Concorda com a introdução de um novo feriado a 2 de Abril do Dia da Autonomia?

Enviar Resultados

Mais Lidas

Últimas