Agora não. Inventámos a sensação de culpa por não estarmos a produzir, a fazer coisas, a "aproveitar para" (desculpem as aspas, mas não sei como dizer isto de outra maneira). E ocupamos o tempo, como se não fosse essencial, parar, descansar, não fazer nada e, simplesmente, estar. Tenho saudades desses verões antigos que cheiravam a ameixas amarelas e a uvas americanas. Tenho saudades de conseguir desligar dos dias comuns - do trabalho, das preocupações, dos medos, do que que ficou por fazer, do que poderia estar a ser feito, do que.
Servem as férias para reencontrar o que de importante se perdeu, ao longo do ano: as distâncias, os horizontes, a alegria, a calma. Servem para descansar. E este é um assunto do qual andamos fugidos, como se descansar não fosse essencial para retemperar as forças e reencontrar o que se perdeu, na loucura dos dias e nos medos que a vida traz. Descansar tornou-se um verbo fora de moda, porque o importante é fazer.
Quando agosto começa (e as minhas férias estão no fim), pergunto-me como aproveitei os dias, de que modo me perdi no "fazer nada", não porque não houvesse coisas por fazer, mas com a consciência de que há muito para além do utilitário, do que é necessário, do que tem de ser.
O tempo de férias é o tempo de (se) contemplar, de olhar o que temos de graça, de "perder países", como dizia Pessoa, de procurar fora de nós as respostas para as perguntas que nos secam a garganta, de nos encontrarmos com o silêncio, de modo a, (depois, ao longo do ano) sabermos onde moram as palavras que nos hão de salvar.