Moram em casas desertas, donde só saem para as compras, para a missa ou para um cafezinho que sabe sempre melhor na rua. Esperam a vida que não volta. E os filhos. Ou os netos que não vêm. Esperam que a noite chegue e o dia amanheça e que a noite chegue e que o dia amanheça. Sempre iguais, os dias. Sempre tão sós.
Moram em casas que não são a sua, à espera que o tempo acabe, porque a vida tem sempre um prazo de validade. Trouxeram com elas o que não era preciso - a dor de já não ser de ninguém. E passam os dias à espera. De alguém. De qualquer coisa. À espera. Do passado, talvez, porque o futuro…
Lembro essas mulheres sem nome, vazias de estarem sós. E deixo que as minhas palavras rezem a sua existência. Elas foram o que eu sou hoje, trabalharam, tiveram famílias, construíram sonhos, amaram, riram, abraçaram. E, certamente, choraram, desistiram, recomeçaram, entregaram o que eram, entregaram-se, fizeram o que acharam que deviam fazer, viveram como puderam.
E lembro aquelas que fogem das guerras que o mundo inventa, das que veem morrer os homens e os filhos, das que se escondem como dantes, quando pensávamos que a humanidade já tinha dobrado a esquina do terror.
Ninguém se lembrará delas no Dia Internacional da Mulher: não fizeram revoluções, não estiveram em lugares do mando, não inventaram nada. Mas são mulheres. E estão sós. E é preciso dizer-lhes que temos orgulho nelas. Antes que anoiteça. Antes que anoiteça para sempre.