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Artigo de Opinião

15/12/2024 03:30

Atravessamos tempos estranhos e preocupantes. Em apenas 1 ano e 4 meses, realizámos duas eleições legislativas regionais, e a previsão é de que dentro de 2 meses sejamos, novamente, chamados às urnas. Para além do evidente cansaço do povo madeirense, este ciclo constante de eleições impede a estabilidade e a previsibilidade indispensáveis ao desenvolvimento económico e ao bem-estar social. Aliás, com esta permanente volubilidade, é quase um milagre os resultados positivos que a nossa economia apresenta, bem como a tranquilidade social em que vivemos. Felizmente, os agentes económicos, sociais, culturais e desportivos, enfim, o nosso povo, não se comporta da mesma forma que os partidos.

Digo-o sem pruridos, porque acompanho de perto o fenómeno político e a atividade parlamentar na Madeira: o que se tem passado na Assembleia Legislativa, a tensão, a agressividade, a incapacidade de colocar o interesse regional à frente de interesses pessoais e partidários, a dificuldade em negociar, são padrões de comportamento que não representam o povo madeirense. Parece que muitos deputados vivem numa realidade alternativa paralela. Ali, as manobras, os jogos de bastidores e de interesses, as conspirações, as alianças secretas, as traições ou manipulações parecem ser o centro de toda a atividade política. Um espaço que devia ser a “casa da Autonomia”, do debate ideológico, mas, igualmente, do compromisso, tem sido muito maltratado. Não dignifica ninguém e prejudica todos, fundando uma generalizada desconfiança nas instituições.

É, de facto, com um misto de tristeza e perplexidade que tenho acompanhado os últimos meses. Fomos a eleições, foram viabilizados um governo e um orçamento e, de repente, sem que nada o fizesse prever ou justificasse, um dos partidos que viabilizou o orçamento para 2024 apresenta uma moção de censura e só admite retirá-la se o líder do partido mais votado se afastar. Ou seja, uma tentativa de tomada da Bastilha, um golpe palaciano, que tem como objetivo decapitar a legítima liderança partidária e de governo, para impor uma qualquer solução não ratificada pelos militantes do PSD-M ou pelos eleitores madeirenses. Pior é que esta estratégia estapafúrdia nem sequer foi orquestrada na Madeira. De cabeça baixa, aceitam os ditames que lhes impõem a partir de Lisboa, numa traição infame e ignóbil à Autonomia conquistada pelo Povo Madeirense. Como, aliás, ficou bem patente ainda esta semana, com aquelas declarações inqualificáveis de Ventura que, não sei o quê, ele é que escolhe quem manda do seu partido na Madeira. Pois, meu caro André, no teu partido pode haver essa submissão absoluta aos teus desejos de pequeno ditador, mas no PSD-M não é bem assim.

Depois, aceitam adiar a moção de censura, o que significa que reconhecem a importância de aprovar um orçamento para 2025. Contudo, chega o momento de votar o diploma e, ironicamente, reprovam-no. Um simples voto de pesar por um gato selvagem consegue mais unanimidade do que um documento crucial para a Madeira e para os madeirenses. Um excelente exemplo, sem dúvida, da ‘elevada’ atividade parlamentar. E nem se pode acusar o PSD-M de não ter tentado.

O enredo, que poderia ser para uma comédia se não fosse um filme de terror, ganhou novos capítulos. O PS-M de Cafôfo, ao perceber que será penalizado nas urnas, tenta ensaiar uma pseudo-coligação para, estrategicamente, mascarar os maus resultados eleitorais que se avizinham. O objetivo? Encavalitar os seus deputados nos outros partidos, disfarçando o desastre que tem sido a sua liderança. E como se não bastasse, surge o patético cartaz, que adota o mais vil e rasteiro populismo, numa tentativa desesperada de replicar as táticas que funcionam para partidos como o Chega e o JPP. Uma manobra vergonhosa e completamente desprovida de escrúpulos.

Este é o retrato da nossa política. E depois, ainda se questionam sobre as razões que levam ao afastamento dos cidadãos e ao aumento da apatia e ao cinismo generalizado.

PS – Desejo a todos os leitores do JM e à sua redação, do fundo do coração, um Feliz Natal e um próspero Ano Novo!

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