MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Deputada do PSD/M na ALRAM

9/10/2024 08:00

Platão, no seu livro ‘A República’, detetou a demagogia e o populismo e descreveu-os pela primeira vez há 2300 anos; ambos são categorias e graus diferentes da mesma enfermidade, mas são inerentes à democracia.

A República é a obra mais importante de Platão e foi escrita em 350 a.C.; o principal tema do livro é a busca pela cidade perfeita. Com o início do projeto de democracia, surgem novas perspetivas para as questões políticas e filosóficas. Uma delas é a definição de justiça, conceito trabalhado por Platão. Esta obra é dividida em 10 livros e tem seis teses fundamentais: o rei filósofo, os três símiles da República ou as três imagens do Bem, a tripartição da alma, a ideia de que a justiça não é por si um bem, a unificação da cidade e a justiça como virtude que alcança a felicidade. Para trabalhar todas essas teses e o próprio conceito de justiça, Platão precisa discutir também sobre a Educação e sobre os regimes políticos, pois uma das principais questões do livro, depois de definir a justiça é: como imprimir a justiça no Estado e na alma das pessoas?

Ora, apesar do decorrer dos tempos e da evolução da sociedade, esta obra literária continua a ter referências muito atuais. A velocidade estonteante a que temos acesso a determinada informação, a difusão de conteúdos por vezes incorretos nas redes sociais, a atitude de eleitos e eleitores fez crescer um conceito de que não se pode contradizer nada nem ninguém, muito menos os eleitores, como se a ideia de servir o povo e o país fosse equivalente a fazer a vontade e anuir aos caprichos de todos e mais alguns. A questão, é que no geral, todos querem mais! Querem mais e bem, porque nunca ninguém, salvo raríssimas exceções, está contente com o que tem; a insatisfação é intrínseca à natureza humana.

Porém, infelizmente, assisto com preocupação ao aumento do número de políticos que não entendem a sua tarefa, nem compreendem que o seu comportamento e as suas palavras também têm uma componente pedagógica. Que, no imediato é impossível termos tudo o que queremos, caso não nos esforcemos por previamente obtê-lo. Que dirigente político, sobretudo da oposição, admite que não há dinheiro para tudo e mais alguma coisa? Qual o político da oposição que reconhece que as obras públicas são fruto opções temporais e da interpretação dos contextos, que não podem ser feitas todas em simultâneo e que os investimentos feitos pelos governantes são consequência dos nossos impostos, do dinheiro de todos nós?

Naturalmente, a demagogia tem graus e doses, como quase tudo na nossa vida. Mas como tudo na vida, tudo o que é demais, enjoa! E infelizmente, de alguns anos para cá, a demagogia na política (na minha opinião), começa a atingir níveis quase insuportáveis. Acontece, porém, que o combate a esta degenerescência da democracia, esta doença contagiosa que mata os regimes decentes, as sociedades abertas, livres e responsáveis, não pode ser feito em nome de princípios demagógicos.

Julgo que é cada vez mais urgente darmos um salto cívico e começar a apontar o dedo verdadeiramente à demagogia, que anda cada vez mais de mão dada com a calúnia e a mentira. É fundamental que os líderes dos partidos do arco da governação e que têm grandes responsabilidades perante a sociedade não sejam medrosos. Não podemos ter receio das consequências da verdade – em todas as áreas fundamentais e basilares do nosso país, da Saúde à Educação, da Justiça à Segurança – porque só assim vencemos os demagogos e os populistas.

Infelizmente, analisando de forma muito pragmática o atual cenário político-partidário, o que separa os grandes partidos defensores e fundadores da democracia em Portugal dos demagogos nem sempre é uma questão de qualidade ou de atitude; aliás, em muitos assuntos trata-se apenas de intensidade, e em determinados casos, atinge mesmo a falta de vergonha.

É, portanto, imperioso, afirmar e agir para que a democracia vença a demagogia e o populismo digital! É fundamental reforçar a participação cívica; só assim poderemos prosseguir no objetivo de deixar aos nossos filhos um mundo melhor do que aquele que encontrámos.

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Concorda com a introdução de um novo feriado a 2 de Abril do Dia da Autonomia?

Enviar Resultados

Mais Lidas

Últimas