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Artigo de Opinião

Doutorada em História / Investigadora

11/03/2022 08:00

Pelo nosso país, parte continental e ilhas, são conhecidos vários projetos para reincluir pessoas em situação de sem-abrigo. Com maior ou menor sucesso, todos foram e são importantes, nomeadamente quando juntos, em rede, procuram respostas articuladas. Soluções de proximidade, pensadas, validadas e avaliadas por equipas multidisciplinares. Parece que se faz pouco. É uma perceção comum. Que não se olha, verdadeiramente pelas pessoas. Mas, não é verdade. E, sim, é preciso fazer mais.

Quando falamos de reinclusão das pessoas em situação de sem-abrigo, estamos também a avaliar a capacitação destas para se autonomizarem, quer do ponto de vista pessoal, quer do profissional. É uma pluralidade de casos especiais. Não é pouco. Significa, entre tantas lutas diárias, deles com eles, deles com os outros, de nós com eles, conseguirem viver por si, a expensas próprias, com o que ganham, fruto do seu trabalho, colocando na mesa, o que escolheram e o que lhes alimenta, a alma e o corpo.

Na rua, no mapeamento que fizemos, o consumo de substâncias aditivas ou a perda do emprego são as duas justificações que mais vezes ouvimos a serem evocadas pelos próprios. Procuram uma saída. Primeiro, o combate à dependência. Logo depois, pedem trabalho e um teto. É uma trilogia que requer compromisso. Motivação. Acompanhamento. Proximidade. E, de novo, compromisso. Dos próprios. Da sociedade.

As taxas de sucesso podem ser aquém do esperado. Podemos ser acusados de desperdiçar os recursos públicos. Mas somos nós, enquanto cidade, onde deambulam durante o dia, e procuram deitar-se à noite, que devemos estar na linha da frente. Este é mais do que um desafio. É um desígnio. De todos. Desde o setor Privado, ao Público, passando pelas Instituições Particulares de Solidariedade Social. Todos não somos muitos. Mas, juntos podemos fazer a diferença. Saúde, casa e trabalho. São necessidades que chegam até nós, já não só em português, também em línguas estrangeiras. Esta é uma das novas características. Nelas cabem ainda pessoas, na sua maioria homens, que trabalhavam na ‘cidade’, na hotelaria, no turismo. Também pessoas que viviam em situações precárias, ao nível da habitação, os designados sem-abrigo com teto, que já viviam em situação de grande vulnerabilidade social. Todas vieram para a ‘cidade’ pelo mesmo: à procura de melhores oportunidades. Não aconteceram.

Neste momento, para além de apostarmos numa habitação partilhada, para tirar as pessoas em situação de sem-abrigo das ruas, temos vindo a persistir na necessidade de um outro vetor: o emprego. Vamos apoiar projetos que garantam a integração destas pessoas, sobretudo no mercado de trabalho. Dentro e fora de portas.

É para isso que cá estamos.

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