«A nossa época parece que só sabe falar de amor. Ao mesmo tempo que se assiste a uma inflação da palavra, diminui (…) a sua força expressiva (…). Cada vez menos se sabe do que falamos quando falamos de Amor.»
(José Tolentino Mendonça, 2012).
São bibliotecas inteiras de palavras. Ditas. Sussurradas. Caladas. Guardadas. São histórias de futuros construídas sobre juras de eternidade. Inteiras. Partidas. Interrompidas. São poemas desenhados na poeira dos lugares, corações atravessados por setas, lágrimas gravadas a giz ou a pedra. E, em fevereiro, antes das máscaras, montras cheias de rosas, ursinhos, chocolates, postais e promessas de felicidade.
Pergunto-me, sempre, de que se fala quando se fala de amor. Ou de nós, este pronome que abarca dois ou o mundo. Pergunto-me qual é o peso (ou a leveza) de um
- meu amor,
dito, tantas vezes, sem dentro, vazio, portanto.
E penso nos gestos, nos que ultrapassam o presente do Dia de São Valentim, nos que não estão escritos nas cartas de amor que (já não) escrevemos, nos que o tempo faz durar, porque são assim os gestos das pessoas que se amam. Duram. Mesmo depois. Mesmo que. Mesmo. Duram. E é isso que faz deles gestos de amor. Porque infinitos.
Na gramática do amor, tem de haver mais do que palavras, tem de haver (e regresso ao autor que me serviu de epígrafe) "estremecimento", com tudo o que isso implica de aceitação, de compromisso, de troca.
Falemos, pois, hoje, de amor. Mas falemos, sobretudo, das outras coisas de nós que não cabem (porque não se vendem nem se compram) nas montras do São Valentim ou num jantar romântico, à luz das velas e com violinos (há disso ou é só nos filmes?)
Mas quando falarmos de amor e dissermos
- meu amor,
tenhamos a certeza absoluta de que, lá dentro, cabe o mundo.