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Artigo de Opinião

Presidente da Câmara Municipal de Porto Moniz

2/03/2022 08:00

A pandemia veio mostrar que, de facto, as nossas prioridades estavam, muitas delas, trocadas. Que o que considerávamos importante não tinha valor nenhum e que o que temos como um dado adquirido nos pode fugir repentinamente das mãos.

Um vírus mostrou-nos, de uma forma muito penosa, o valor da nossa liberdade. Mostrou-nos que o que estava sempre à mão de semear pode, de uma hora para a outra, ser de difícil acesso.

Os isolamentos profiláticos poderiam ter servido para passarmos tempo de qualidade com os que nos são mais próximos, mas não sei se isso se passou de facto. Temo que isso não tenha sucedido porque os confinamentos ao invés de terem sido aproveitados para estreitar laços, serviram para nos tornarmos mais reféns das tecnologias.

A situação pandémica ensinou-nos que os planos a médio e a longo prazo podem ser uma perda de tempo se, pelo caminho, não formos tirando proveito das pessoas e dos momentos que nos dizem algo.

E quando achávamos que o vírus parecia querer dar-nos tréguas e que iríamos retomar a nossa vida, suspensa há dois anos, rebenta a guerra na Ucrânia, em jeito de implosão e de explosão ao mesmo tempo. Implosão porque estamos a assistir à destruição de um país e da vida de muitas pessoas que lá vivem e explosão porque a Ucrânia é mesmo ali ao virar da esquina e os europeus não podem pura e simplesmente assobiar para o lado, sob pena de serem gravemente atingidos pelos estilhaços de um conflito movido pela excessiva ganância de mentes pouco iluminadas.

Quando achávamos que a tempestade tinha acabado, percebemos depressa que a bonança está longe de chegar e que antes disso há que tirar ensinamentos desta nova tempestade que nos assola.

Há que aprender com os gestos simples de quem coloca os seus serviços, de forma graciosa, ao dispor dos ucranianos, de quem começa a recolher bens para fazer chegar a estes cidadãos, de quem abre a porta do seu país e das suas casas a quem fugiu deixando uma vida para trás. Nem tudo é mau porque à tenebrosa tempestade a Europa está a responder com solidariedade que pode não evitar as baixas provocadas pela guerra, é certo, mas que seguramente contribuirá para dar alguma atenção e dignidade a muitos que, se calhar, há pouco tempo, como nós, se queixavam por tudo e por nada e que agora percebem o quão infundados eram esses lamentos.

De olhos postos no televisor e no drama que muitos ucranianos vivem é incontornável concluirmos que ainda não damos valor às pequenas coisas: à liberdade, ao sentimento de segurança, ao conforto do nosso lar, à presença dos que são importantes na nossa vida, ao nosso trabalho…

Há que aprender que não devemos dar nada como garantido e que quando saímos de casa para o trabalho, para férias ou para fazer uma visita a um amigo não sabemos se vamos voltar e se mesmo voltando tudo vai estar igual como dantes. Não nos esqueçamos que na Ucrânia estão portugueses que foram passar férias ou trabalhar e que agora tentam a todo o custo regressar a Portugal. Não sabemos quanto tempo demorarão ou mesmo se conseguirão todos chegar ao nosso país, mas ainda que se tenha esperança num final feliz, para os nossos conterrâneos e para todos os ucranianos, julgo que a experiência traumatizante que estão a passar deveria ser suficientemente elucidativa para vermos mais compreensão, altruísmo e solidariedade nos olhos de cada um. Veremos!

Não tenho dúvidas de que saberemos reagir, de que mostraremos uma vez mais que somos feitos de vontade, de espírito de sacrifício e de resiliência, mesmo quando a luz que se via ao fundo do túnel, fruto do controlo da pandemia, se tornou mais fraca e trémula às mãos de Putin.

Uma palavra de apreço para todos os jornalistas que, arriscando a vida, trazem até nós os pormenores desta guerra. Sentados no conforto do nosso sofá não nos esqueçamos que todos eles têm uma família que espera ansiosamente o seu regresso. Nós também esperamos por um rápido desfecho, mas, entretanto, saibamos, mais do que nunca, dar valor às pequenas coisas.

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