Tanto havia a dizer sobre estes últimos dias políticos. Tanto que, quiçá, não caberia neste espaço. Todavia a proximidade aos 522 anos de elevação a Vila, da então designada por D. Manuel I Vila Nova da Calheta, aliada ao amor que tenho à minha terra, fazem-me distanciar do enredo político regional e refletir a oeste. O oeste que é o centro do presente e futuro do pedaço de terra onde todos os dias acordo.
No concelho que adotou São João para assinalar a elevação a Município, comemoram-se 522 anos de história! São 522 anos de vida e de vidas, de sentires e pulsares, de dores, paixões e lutas, entre agruras por lombos e vales, abençoados por um clima ameno e paisagens arrebatadoras, do Arco à Ponta do Pargo. A terra que tem uma 9ª freguesia no magno coração de uma diáspora pelos 4 cantos do mundo espalhada está em festa!
Até há poucas décadas esta era uma terra esquecida e votada ao quase abandono social, económico e cultural. Com a democracia, mas principalmente com a autonomia, a Calheta foi aparecendo no mapa até se afirmar nos dias de hoje como terra em franco desenvolvimento, de oportunidades e qualidade de vida. A Calheta de hoje nada tem a ver com a Calheta de há 30. Juntos, construímos uma terra mais próspera para todos, com uma geração de calhetenses evoluída social, educativa, cultural e desportivamente. Estamos felizes pela terra que hoje somos. Estamos inconformados com a terra que queremos continuar a construir. Orgulhamo-nos do passado, temos muita consideração pelo presente, mas ousamos sonhar com melhor futuro. Melhor futuro coletivo, melhor qualidade de vida para todos. Do ambiente aos recursos naturais; do social à educação; da cultura ao desporto; sem esquecer o planeamento urbanístico, a nossa identidade patrimonial e as respostas habitacionais que urgem, somos inconformados e desacomodados, numa luta permanente por melhores razões para fixar os jovens e garantir a sustentabilidade social.
Sim, estamos em festa. Porém, festejar também é visionar. Visionar onde estamos e para onde queremos ir. Para onde queremos ir, como queremos ir e com quem queremos ir. Sabemos que queremos ir juntos, coesos e lutadores. Sabemos que queremos trilhar o caminho da prosperidade coletiva, na inclusão da diferença que nos une. Sabemos que queremos ir salvaguardando a identidade que nos afirma, que promove investimento e cria dinâmica económica. Não podemos perder o que nos distingue. Todavia temos também de responder a novos desafios. Diversificar a base da economia local e garantir mais e melhores acessibilidades. Sabemos que é preciso tratar melhor o ambiente, salvaguardar mais os recursos naturais e reservar espaço para os calhetenses. Acarinhamos muito os que nos visitam e aqui investem, mas queremos uma Calheta para os calhetenses.
É tempo de festa, é hora de marchar. Hoje temos marchas populares, que representam as 8 freguesias. Estaremos juntos, na marginal que honra aquele que nos elevou a Vila, celebrando o presente de olhos postos no futuro, no futuro pois visão rima com São João!