A Câmara de Machico, na Madeira, vai manter a tradicional Festa dos Fachos, que serão acesos no sábado à noite, indicou hoje o presidente do município, assegurando que estão reunidas todas as condições de segurança.
“A tradição dos fachos é um evento secular que tem sido realizado ao longo dos anos e que este ano não fugirá à regra. O evento realizar-se-á nos mesmos moldes que tem sido feito nos anos anteriores”, afirmou Ricardo Franco, em declarações à agência Lusa.
O autarca assegurou que estão reunidas todas as condições de segurança, apesar do incêndio que atinge a Madeira há mais de uma semana, referindo também que em anos anteriores o evento foi realizado mesmo havendo fogos a atingir a ilha.
O presidente da Câmara de Machico (PS) explicou que antes do acendimento dos fachos é feita uma “queima preventiva”, pela corporação de bombeiros, nos espaços onde estão localizados.
“É queimada a erva, a vegetação rasteira que existe junto aos fachos, o que quer dizer que mesmo no dia do acendimento aconteça qualquer bola que caia da estrutura já não arde, porque o espaço já está queimado”, disse.
Durante o acendimento dos fachos, que dura entre 30 e 45 minutos, cerca de 20 bombeiros acompanharão “todo o processo”, acrescentou.
“No verão de 2016, quando aconteceram os grandes incêndios no Funchal, que infelizmente vitimaram pessoas, foi realizado o acendimento dos fachos. O que me parece é que há aqui uma tentativa de transformar esta tradição marcante [...] numa espécie de bode expiatório para o que está a acontecer na Madeira”, considerou.
“Acho que não faz sentido nenhum estar a tentar por no mesmo patamar aquele que é o resultado de atitudes criminosas, pegando fogo na floresta, com um evento que é preparado com todo o cuidado, com toda a prevenção”, reforçou o autarca.
O PAN/Madeira indica numa nota hoje divulgada que solicitou formalmente ao município de Machico “o cancelamento da tradicional queima dos fachos, em sinal de respeito e solidariedade para com os bombeiros que, heroicamente, têm lutado incansavelmente para combater os incêndios” e “em homenagem à vasta área de território que foi tragicamente destruída pelas chamas”.
“Reconhecemos a importância cultural e histórica desta tradição no concelho de Machico, contudo, e atendendo que a mesma envolve uso de tochas e fogo, consideramos inadequado e até desrespeitoso num momento em que a nossa ilha é assolada pelos incêndios. Esta prática, ainda que controlada, simboliza algo que atualmente traz imensa dor e preocupação aos madeirenses”, afirma a deputada única do partido no parlamento regional, Mónica Freitas, citada no comunicado.
Na nota, o PAN indica ainda que promoveu uma petição contra a realização da queima dos fachos, que às 16:15 de hoje reunia 382 assinaturas.
“Este apelo tem sido feito inclusive por outras forças partidárias e associações ambientais, nomeadamente a Quercus, e deve ser neste sentido de união que colocando cores políticas de parte, apelamos à responsabilidade e bom senso também dos autarcas da região”, refere ainda a deputada.
Na quarta-feira, em conferência de imprensa, o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, não se opôs à realização do evento “desde que não ponha em causa os meios” de combate ao incêndio e “não tenha implicações” para a Proteção Civil.
Já o secretário regional da Proteção Civil, Pedro Ramos, tinha afirmado anteriormente, em declarações à RTP/Madeira, que a festa religiosa deveria acontecer sem a queima dos fachos.
Esta tradição secular está integrada na festa religiosa do Santíssimo Sacramento.
Os fachos simbolizam as fogueiras que eram feitas antigamente para avisar as populações dos ataques de piratas e corsários.
O incêndio rural na ilha da Madeira deflagrou no dia 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e, através do Pico Ruivo, Santana.
As autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram, à exceção dos da Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos.
O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas ou de infraestruturas essenciais.
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais apontam para mais de 4.930 hectares de área ardida.
A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, disse tratar-se de fogo posto.