O representante da República começou o seu discurso, na cerimónia do 106, aniversário do armistício da Grande Guerra, 50º aniversário do fim da guerra do Ultramar e 101º aniversário da Liga de Combatentes, manifestando o seu agradecimento à Liga de Combatentes, e, em particular, núcleo do Funchal. “Creio que esta instituição, que justamente se orgulha de estar «há mais de 100 anos ao serviço dos Combatentes», merece a gratidão de todos”.
Uma oportunidade para defender mais apoios aos antigos combatentes, isto ainda tendo em linha de conta que de 1961 a 1974, “toda uma geração foi mobilizada para Angola, para a Guiné e para Moçambique. Fazendo as contas apenas às Forças Armadas portuguesas, cerca de 10.000 Combatentes não regressaram às suas famílias, mais de 20.000 ficaram com mazelas físicas para toda a vida, e talvez nunca saibamos quantos os que sofreram e ainda sofrem psicologicamente por força da sua participação num conflito que, certamente, não desejavam. Após o seu regresso, os militares tiveram de enfrentar não só o desafio do seu retorno à vida civil, de reconquistar o seu lugar na sociedade, mas ainda as sequelas da guerra”.
Enaltecendo o trabalho que a Liga dos Combatentes tem vindo a desenvolver em prol destes ex-Combatentes, e no qual se incluem estruturas de apoio médico, psicológico e social”, Ireneu Barreto chamou a atenção para o papel que o Estado e outras entidades públicas, nos diferentes níveis, devem desempenhar no apoio aos ex-Combatentes.
“Às autoridades públicas em geral caberão tarefas de apoio de maior monta”, disse, depois de mostrar-se satisfeito com o monumento que será inaugurado na próxima semana, na Ponta do Sol, e de recordar a aprovação do Estatuto do Antigo Combatente, com vantagens para estes indivíduos.
“Todavia, pergunto-me se estes homens que passaram pelos maiores sacrifícios – e as suas famílias – não são credores de outros benefícios. Não será possível alargar as vantagens de que os mesmos gozam? Já no passado fiz esta pergunta, e o tempo parece ter-me dado razão. Por exemplo, aí está a programada comparticipação a 100% na compra de medicamentos”, recordou.
Mas, entende que os valores atribuídos ao Suplemento Especial de Pensão e ao Acréscimo Vitalício de Pensão podem ser melhorados.
“Em ambas as situações estão em causa montantes que podem, na melhor das hipóteses, ir até pouco mais de 170 euros, pagos uma vez ao ano.
“Todos somos testemunhas do aumento do custo de vida nos anos mais recentes, pelo que creio que todos comungaremos da ideia de que o referido montante pouco impacto terá na melhoria da situação económica de quem o recebe. Talvez possa ser altura de repensar estas prestações, por um lado, sujeitando-as a condição de recursos; e, por outro lado, fazendo aumentar substancialmente o valor das prestações que vierem efetivamente a ser atribuídas. Certamente que seria uma via mais justa, atribuindo aos que mais precisam uma compensação de maior dignidade, que possa corresponder minimamente ao reconhecimento que tanto merecem”, sustentou.
Por outro lado, Ireneu Barreto fez, por um lado, um exercício de memória, focando a necessidade de continuar a assinalar as datas em questão nesta cerimónia.
“A lei da vida impôs-se e já não temos entre nós qualquer Combatente da Primeira Grande Guerra. E dos conflitos em África também algumas memórias se vão desvanecendo”.
A seu ver, é importante recordar “para recolher lições da História, e para homenagear, sempre, quem pela Pátria lutou e luta”.
O representante da República na Madeira citou Mark Twain: “A história nunca se repete, mas muitas vezes rima”, para lembrar o que se passa atualmente na Ucrânia, no Médio Oriente e em tantos outros pontos do nosso planeta.
“Pela minha parte, é com apreensão que não consigo deixar de ouvir esses ecos de há 100 anos. A invasão da Ucrânia pela Rússia deu-se há já mais de dois anos e meio, e as notícias que de lá nos chegam não permitem vislumbrar a Paz. No Médio Oriente, parece agora ter-se entrado num tétrico jogo de parada e resposta, cujo fim ainda não se entrevê. Pelo meio, sofrem as mesmas vítimas de sempre: os soldados, mas também os civis, incluindo mulheres, crianças e idosos, que em nada contribuíram para a guerra”.
Ireneu Barreto espera que, “de uma vez por todas, tenhamos tirado as corretas lições da história e que, passo a passo, não nos dirijamos, adormecidos, para conflitos mais globais. Com os meios com que hoje se podem travar as guerras, um novo conflito global tem, literalmente, o potencial de destruir o Mundo tal qual o conhecemos”.