O oceano Atlântico tem condições para ser um “grande produtor de aquicultura”, se houver colaboração entre privados, universidades e Estado, defendeu hoje o diretor executivo do Air Centre, Miguel Miranda.
“O Air Centre está profundamente comprometido com o desenvolvimento de uma economia azul realista, baseada no setor económico, com o apoio das universidades, em cooperação com o Estado, que regula, de forma a que seja possível, rapidamente, o Atlântico ser um grande produtor de aquicultura, que diminua a pressão das pescas, que recupere a generalidade dos stocks de pesca tradicionais e que seja possível deixarmos para os próximos anos melhor do que encontrámos”, afirmou Miguel Miranda.
O diretor executivo do Centro Internacional de Investigação para o Atlântico - Air Centre falava em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, na sessão de abertura do Fórum Atlântico de Aquacultura, que decorre durante dois dias nos Açores.
O encontro junta especialistas nacionais e internacionais, contando com a participação de países como Senegal, Angola e Cabo Verde.
Miguel Miranda defendeu que os Açores já “produzem a melhor carne e o melhor peixe” e têm como desafio produzir também “a melhor aquicultura possível”.
Para implementar a aquicultura, é preciso, segundo o diretor executivo do Air Centre, que o setor contribua “simultaneamente para a produção de proteína e para o aumento da riqueza dos países”.
Miguel Miranda considerou ainda que “não é possível fazer um grande plano de aquicultura sem o papel das universidades”, salientando que há um melhoramento genético a fazer.
Por outro lado, destacou o papel das organizações nacionais que “simultaneamente são responsáveis pelo licenciamento, pela segurança e salvaguarda alimentares e por manter a saúde do oceano”, sublinhando que a compatibilidade ambiental é um desafio.
O diretor executivo do Air Centre, que foi presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) alertou para o aumento da temperatura do mar nos Açores, que este verão atingiu os valores mais elevados das últimas oito décadas.
“O aquecimento veio para ficar, cada ano vamos ter uma temperatura um bocadinho maior do que o anterior”, afirmou, questionando se as temperaturas do mar, que ultrapassaram os 27 graus este ano, poderão ter algum tipo de influência nos stocks das espécies de peixe com valor comercial na região.
“É bom que a gente pense que nada é imutável e que temos de nos preparar para condições que serão ainda piores do que aquelas que conhecemos hoje”, reforçou.
O vice-presidente do Governo Regional dos Açores, Artur Lima, apelou à dedicação dos cientistas e ao empenho dos privados para que a aquicultura possa ser desenvolvida na região.
“O envolvimento do Air Centre, da Universidade dos Açores, dos privados, é absolutamente fundamental para que este projeto possa avançar e é fundamental para que os Açores se possam desenvolver, juntando todas estas entidades, em que o Governo seja apenas o regulador e não o agente principal”, apontou.
Dirigindo-se à reitora da Universidade dos Açores, Susana Mira Leal, o vice-presidente do executivo açoriano apelou a que a academia se dedique mais a estas áreas.
“A ciência só é útil quando é útil ao cidadão. É fundamental que a Universidade dos Açores e todos os ‘players’ se envolvam neste projeto de maneira a que produza resultados”, declarou, desafiando ainda os privados a “agarrar este tipo de projetos para que possam criar mais emprego”.
Susana Mira Leal reconheceu que há trabalho a percorrer na academia açoriana sobre a aquicultura.
“Temos algum trabalho feito, mas muito trabalho mais há a fazer em parceria quer com as entidades governamentais, quer com os parceiros estrangeiros já conhecedores destas matérias, quer com o setor privado”, afirmou.
A reitora da Universidade dos Açores defendeu que a aquicultura “tem potencial” na região, mas apresenta “um conjunto de desafios importantes”, apontando como principais riscos a poluição das águas, a fuga de espécies exóticas, o uso indiscriminado de medicamentos para controlo de doenças e a redução da qualidade nutricional dos alimentos.
A diretora-geral da Política do Mar, Marisa Silva, lembrou que Portugal prevê aumentar a produção nacional de aquicultura para 25 mil toneladas por ano.
“Os oceanos vão ter um papel fundamental na resposta a desafios chave e muitas soluções vão ser desenvolvidas a partir do seu uso sustentável, com um grande impacto no emprego e em atividades nas comunidades costeiras. A ciência e a inovação terão um papel fundamental na criação de políticas públicas para os oceanos”, salientou.