O bater da saudade é algo que só quem vive ou viveu fora de Portugal entende. A sensação de necessidade por qualquer coisa de Portugal, e da Madeira em particular, é constante, estejamos perto ou longe. Seja na ida ao supermercado, a pastelarias e restaurantes, no convívio em centros comunitários, no ensino da língua para os mais novos, na participação em eventos culturais, desportivos, no contato com a embaixada ou consulado, na escolha das rotas da TAP e SATA ou até mesmo na visualização e leitura de conteúdos de TV e jornais. Somos movidos pela necessidade de satisfazermos a necessidade de coisas tão nossas. Isto acontece um pouco por todo o mundo, onde existem pequenas ou grandes comunidades de portugueses. Obviamente que todos conhecem o Cristiano Ronaldo, a sua terra natal e apreciam a boa comida portuguesa. E para quem aprecia vinho, o nosso vinho é mais um elo de ligação ao que de bom o nosso país tem.
Atualmente, as diferentes comunidades portuguesas e os seus lusodescendentes têm hoje a possibilidade, com maior ou menor facilidade, de regressar ao nosso país de férias, contribuindo dessa forma para a nossa economia de várias formas. E é isto. Chegados aqui, o bater da saudade aliado ao poder de compra faz a todos esses que regressam, por alguns dias ou semanas, querer usufruir de momentos só nossos que só quem regressa ou parte um dia entenderá.
Mas lá está, só vimos de férias. Este já não é o nosso país. Mesmo que gostemos muito do regresso, te(re)mos de voltar... para algum lado, menos ficar. Só interessam as coisas boas... o bom tempo, as praias, a boa comida, reviver memórias do passado e depois regressar.
Exemplos não faltam entre as comunidades que se encontram nos quatro continentes. Quem fica ou (ainda) não saiu, não saberá (ainda) o que isso significa. Quem regressa, tem outra visão e naturalmente outras experiências de vida, algo que aos poucos entrará em conflito com o tal bater da saudade. É preciso pois saber resistir ao encanto das emoções e ao bater da saudade.
Seja para quem regressa do Reino Unido, de França, do Luxemburgo ou da Suíça, do Dubai, da Austrália ou da África do Sul, da Venezuela ou Brasil, dos Estados Unidos ou do Canadá. Todos passam pelo mesmo. O desejo de um dia regressar mais novos ou talvez já na idade da “reforma” é um dilema constante, investir em algum tipo de propriedade ou simplesmente usufruir da oferta hoteleira, da decisão de comprar ou alugar carro, de visitar a família ou simplesmente aproveitar. As comparações com o cá e lá acabam por ser uma constante. No acesso aos cuidados de saúde, na segurança, e em tantas outras áreas. Para os que já têm filhos e até mesmo netos, então o bater da saudade ainda se complica mais.
Entre o cá e lá, a nova geração prefere a sociedade onde nasceu, onde cresceu e está aculturada. Com ou sem estatutos, a ligação a Portugal vem apenas pelo cordão umbilical dos pais e avós. Assim, tais regressos, temporários ou definitivos, acabam sempre por se verificar desafiantes, onde os prós e contras colocam todos os que por isso passam num profundo dilema, que quem está não entende nem entenderá. Continuemos, pois, a viver este bater da saudade cá e lá, onde quer que estivermos. Sem nunca pensar no ficar ou regressar. Interessa, pois, sermos felizes e sentirmo-nos realizados, cá ou lá.
*Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Católica Portuguesa