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Artigo de Opinião

Presidente do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza

31/07/2024 08:00

O lobo-marinho, também conhecido como foca-monge-do-mediterrâneo (Monachus monachus) é, sem dúvida, uma das espécies mais emblemáticas do nosso arquipélago. Historicamente, esta espécie habitava vastas áreas ao longo da costa do Mediterrâneo e do Atlântico oriental. Câmara de Lobos, por exemplo, deve o seu nome à abundância destes animais na sua baía aquando da descoberta da Ilha. No entanto, ao longo de séculos, a caça intensiva e a captura acidental em redes de pesca reduziram drasticamente a sua população, levando a espécie à beira da extinção.

Reconhecendo a gravidade da situação, o Governo Regional da Madeira implementou diversas iniciativas para proteger este mamífero marinho. As Ilhas Desertas, o último reduto do lobo-marinho no arquipélago são, desde 1990, uma área protegida, constituindo-se como um refúgio seguro longe da interferência humana. Vários programas rigorosos de monitorização e conservação foram estabelecidos, estudando-se os hábitos e habitats dos lobos-marinhos para melhor protegê-los. Zonas de exclusão foram criadas, proibindo a atividade humana em áreas críticas para o seu descanso e reprodução. Campanhas de sensibilização e educação ambiental têm sido essenciais para informar a população sobre a importância de preservar esta espécie, garantindo o apoio à sua conservação.

Graças aos esforços do Governo Regional, da comunidade científica e da comunidade em geral, temos observado um aumento encorajador na população de lobos-marinhos nas nossas águas. Este sucesso é visível na crescente frequência com que estes animais são avistados na costa da Madeira e na interação cada vez maior com os seres humanos. Estes encontros são sinais positivos da recuperação da espécie e oferecem uma oportunidade única de conexão com a natureza. Tais momentos são preciosos, mas exigem cuidados para garantir a segurança, tanto das pessoas como dos próprios lobos-marinhos.

Quando avistar um lobo-marinho, é crucial adotar comportamentos responsáveis: mantenha uma distância de segurança, no mínimo de 5m (50m se estiver numa plataforma de observação); se estiver a nadar, afaste-se e volte calmamente para terra; não o alimente nem lhe dê água; não lhe toque; não deixe animais de estimação se aproximarem; se estiver a fazer caça submarina ou a pescar e o lobo-marinho se mostrar interessado no seu peixe, liberte-o.

Se possível, recolha imagens e envie para a rede SOS Vida Selvagem do IFCN, através do email lobomarinho@madeira.gov.pt, indicando igualmente o local, data, hora e número de animais avistados. Se o animal se apresentar ferido ou estiver morto, contacte imediatamente a linha telefónica SOS Vida Selvagem através do número 961 957 545.

Relembro que, apesar do seu aspeto dócil e atitude curiosa, o lobo-marinho não deixa de ser um animal selvagem que se encontra no seu meio natural, e que embora não seja agressivo por natureza, poderá reagir a alguma ação mais abrupta que considere uma ameaça. E porque este tipo de encontros poderá vir a aumentar com o cada vez maior número de indivíduos na colónia, nunca é demais relembrar para o cumprimento de regras que evitem consequências de maior.

Esta espécie é o exemplo e a referência do que deveria ser a proteção de muitas outras espécies ameaçadas. Não sei se será pelo aspeto dócil e simpático do animal, se será pelo fato de ser um animal curioso e que por vezes interage com as pessoas, o fato é que se tornou no animal de que todos gostam e que todos se sentem motivados a ajudar, deste os mais jovens até aos mais idosos. São dois lobos marinhos que seguram a bandeira no brasão de armas da RAM, o ferry de ligação ao Porto Santo foi batizado de Lobo-marinho, e até o IFCN deu o nome de “Monachus” a uma embarcação que adquiriu.

A recuperação do lobo-marinho da Madeira é uma história de esperança e determinação. Graças aos esforços incansáveis de todos, estamos assistindo ao renascimento desta espécie ameaçada. Contudo, a luta está longe de terminar. Precisamos continuar a proteger e respeitar estes animais, garantindo que possam prosperar nas nossas águas. Da nossa parte vamos continuar a trabalhar com determinação, para assegurar que o lobo-marinho da Madeira permaneça um símbolo vivo da nossa rica biodiversidade e do nosso compromisso com a conservação da natureza.

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