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Artigo de Opinião

22/03/2025 08:00

«Those of us who follow politics closely always seem to forget that we’re the strange ones.»David French, Advogado e comentador político conservador estado-unidense

Ao fim de quase dois meses após a tomada de posse do Presidente dos EUA, 90% dos votantes republicanos aprova a sua performance na liderança. Já do lado dos democratas, também há os que apreciam o que tem sido feito: 4%, o que demonstra bem a clivagem entre as duas visões que têm maior expressão no país.

Numa conversa que aconteceu online com quatro comentadores conservadores, o New York Times tentou perceber por que razão este governo continua a agradar tanto aos votantes republicanos.

Em primeiro lugar, a crença de que tudo estava péssimo e que, portanto, só uma demolição completa do sistema resultará.

Em segundo o ressentimento e o desprezo pela «ajuda» externa dos EUA, que veem como um sorvedouro de recursos e não como uma forma de firmar e afirmar os EUA como uma potência global. Mas também pelas instituições, aquelas que os conservadores MAGA (Make America Great Again) consideram tê-los excluído – e às vozes da classe trabalhadora – da máquina federal, ou de quaisquer outras que pareçam garantir direitos «aos outros», como o departamento de educação ou as universidades.

Em terceiro, a falta de particular atenção à consequência da extinção destas medidas (nomeadamente as que dizem respeito à política externa). Só interessa aquilo que acham que as pode afetar diretamente, e mesmo assim, a curto prazo. E isto aplica-se obviamente ao jogo duro constitucional que esta administração republicana está a jogar, ao forçar os limites dos poderes presidenciais e ao testar a solidez da separação de poderes, num permanente desafio, uma vez mais, às instituições. Especialmente porque segunda a perceção, as suas liberdades individuais estavam ameaçadas por uma noção de liberdade para toda a gente.

Mas há mais.

Um dos fatores mais decisivos é a desinformação. Como sublinha David French, nessa conversa (entre comentadores conservadores, recordo), neste mandato, tal como já haviam ensaiado no primeiro, tentarão avançar com políticas que roçam a inconstitucionalidade e a ilegalidade, enquanto os seus aliados, agora promovidos à «única-voz-livre» oferecerão ao público a narrativa justificativa até ao limite. Ou até mesmo para lá do limite. Basta olhar para algumas das recentes decisões de juízes conservadores que bloquearam algumas das medidas para logo serem postas em causa com acusações de que são os tribunais que estarão fora-da-lei.

O mais interessante talvez seja percebermos como foi possível chegar até aqui de um ponto de vista conservador, normalmente visto como defensor da Lei e Ordem e do papel de liderança global americano: Um presidente estado-unidense que verbaliza querer anexar territórios de outros países, ou países inteiros como o Canadá, expulsar um povo de um território para exploração imobiliária, delapidar os recursos de um país em troca de uma proteção acordada há mais de 30 anos, desbaratar aliados, capitular perante inimigos clássicos.

Para a grande maioria de republicanos, a inconstitucionalidade, a violação dos direitos humanos, ou o fim do Estado de Direito não passam notas de rodapé. São conceitos quase abstratos que requerem conhecimento para que se reconheça o alcance imediato da ameaça.

Mas são ainda sensíveis à noção de incompetência. Isso quase toda a gente consegue avaliar. Talvez daqui a poucos meses, quando as exportações americanas começarem a cair por causa das tarifas alfandegárias impostas aos EUA como retaliação, ou por causa do fim da ajuda externa que tantas vezes se traduzia na venda de produtos norte-americanos pagos com os valores da ajuda externa e financiamento americanos, ou por causa da perda de mão-de-obra imigrante.

Se calhar, é preciso mesmo apelarmos não aos valores éticos, ou à defesa da democracia, nem tão pouco a liberdade continua a ser o valor mais querido. Se calhar, só mesmo a exposição da incompetência – aquela incompetência que ataca diretamente os bolsos – pode ser um dos últimos trunfos que restam para salvar a democracia.

Porque a democracia não se avalia apenas pelo que acontece no dia das eleições, ou pela decisão da maioria. É muito mais importante o que se passa no tempo entre as eleições, o respeito pelo Estado de Direito e pelas leis que defendem o direito à opinião discordante e à humanidade das minorias.

Amanhã, vote. Se calhar não há um partido perfeito que defenda exatamente o que pretende. Mas lembre-se que há quem defende exatamente tudo o que abomina.

A escolha, essa, é sempre só sua. Bom dia de reflexão!

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