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Artigo de Opinião

HISTÓRIAS DA MINHA HISTÓRIA

3/03/2023 08:00

O ministro, acastelado no seu gabinete, persiste na recusa em atender às revindicações, principalmente, diz, porque implicam despesa aos cofres do estado — esses mesmos dos quais emanam, sem rebuço, milhões para outros fins: grupos, bancos, empresas, festas, receções, indemnizações, etc.

Ao facto de, ao longo de décadas, os direitos desta classe terem ficado preteridos em prol do bem comum não interessa nada. O argumento justificativo é sempre a eterna crise em que estamos. Ainda que se queixassem entre pares, os professores acabaram por acomodar-se à realidade decretada, dominados pela consciência de que o futuro dos seus alunos se constrói no presente e, na sala de aula (digo por experiência), quando estamos com eles, esquecemos os problemas do mundo. Assim foram passando anos de aceitação às imposições em permanente alteração: burocracias, modas de práticas letivas e avaliativas, condições de trabalho precárias, regras e obrigações, algumas tolas e inúteis. Com o prolongar do silêncio, governos e sociedade sentiram-se no direito de exigir e, ao mesmo tempo, desconsiderar e desvalorizar o professor.

Durante o período da recente pandemia, algo mudou na perspetiva da sociedade e, em particular, dos encarregados de educação que, tendo os filhos impossibilitados de ir à escola, tiveram uma noção mais exata do papel dos docentes. Tempos difíceis nos quais, uma vez mais, os professores se desdobraram para manter o contacto com os alunos. Mesmo aqueles que diziam ter alergia aos computadores não hesitaram em recorrer a eles para garantir a continuidade do ensino à distância. A Importância da escola, tantas vezes menorizada, talvez por ser algo tomado como garantido, tornou-se evidente.

Desta vez, os protestos dos professores parecem animados de energia, por um lado, ditada pelo cansaço de anos a reivindicar as mesmas coisas, sem que alguém os ouça, mas também porque outras fatias da sociedade se lhes juntaram em apoio.

O poder político, surpreendido e contrariado, procura atrair impopularidade para a causa. Em entrevista, o Presidente da República afirma reconhecer razão aos docentes, mas adverte que os mesmos "devem evitar prolongar a sua luta, para que a opinião pública não se vire contra eles". Ora, não será pela condenação social que o que pedem os profissionais de ensino (ou outros, como os da saúde, também eles em contestação) perde a justeza. Usar o papão da condenação social para atemorizar e dissuadir é, quanto a mim, revoltante e perigoso. Tanto mais que ela é usada ou rejeitada conforme convém, como atestam as declarações do mesmo chefe da nação, quando, passados dias, critica outro político por recorrer à mesmíssima ameaça em relação a outra questão, dizendo que "não se deve reagir emotivamente e usar a opinião pública para desvalorizar uma causa".

Enfim! Jogos de discurso, em que se digladiam os vários poderes, como forma de manipular essa mesma opinião pública, conquistando-a em favor dos seus próprios pontos de vista, credos ou interesses do momento, ou dividindo-a para enfraquecer o poder reivindicativo das classes em luta. Resta-nos esperar que impere a lucidez, para bem da escola, pilar fundamental e estruturante de qualquer sociedade.

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