Na Madeira, a classe política no poder desde o 25 de Abril incorporou no seu ADN a empáfia de que se está lá, é porque merece. Todas as outras vozes da organização social e política devem interiorizar a humilhação e remeter-se ao silêncio, dizendo "ámen" a tudo o que sair da vontade do poder laranja. Exatamente a mesma visão que têm sobre quem é pobre: estão assim porque são mandriões e sugadores dos dinheiros públicos. Nunca se questionam sobre o que fizeram, como poder, para conseguirem que a Madeira seja a campeã nacional da pobreza e da taxa de desemprego. São pobres porque merecem e devem lá ficar até aprenderem. Aliás, esta é a visão do PSD nacional que, através de Mónica Quintela, disse que o governo de Passos Coelho até deveria ter deixado os funcionários públicos sem salários, em vez de cortarem "só" os subsídios de férias e de natal e de congelarem progressões e pensões (outro membro do PSD, em 2013, apontou a "peste grisalha" que invadiu Portugal). "Aprendiam que era uma pressinha" afirmou ela. Calado faz o mesmo. Fazendo jus ao seu apelido, mas para os outros. Fique caladinho, pois já levou no focinho, parece insinuar. É a democracia que conhece.
Estamos perante maneiras diversas de fazer política. A partir de 2013 a gestão municipal mudou radicalmente. Começou a construir-se uma cidade inteligente, em que se promoveu a tecnologia ao serviço das pessoas e se valorizou a sua participação na construção do território. Implementaram-se programas de efeitos imediatos e outros com ideia de futuro, que proporcionaram ferramentas para essa construção coletiva e sustentável. Apostou-se em medidas de médio e longo prazo, tendo sempre em vista a sensibilização da população para o impacto que a presença das pessoas e da circulação automóvel têm na qualidade de vida das cidades, a par da noção de emergência climática e de como o território insular é ainda mais vulnerável. Foi assim, coletivamente, que se construiu o PAMUS, Plano de Ação de Mobilidade Urbana Sustentável, o PDM, Plano Diretor Municipal, o PAICD, Plano de Ação Integrado para as Comunidades Desfavorecidas, o PEMC 2021-2031, Plano Estratégico Municipal para a Cultura, entre outros. Fizemos a diferença.
Foi uma visão totalmente oposta à que norteia a classe política laranja, que vive para o imediato e para a satisfação das necessidades de quem a apoia e sustenta, "borrifando-se" no futuro. Durante 8 anos apostou-se num caminho de co-construção e sensibilização, chamando a atenção para os problemas reais que, mais tarde ou mais cedo, vamos obrigatoriamente enfrentar e que podem até colocar em risco o território em que vivemos. Não se cedeu à tentação do imediato. Pensou-se nas gerações que virão a seguir e na cidade que se queria deixar.
Que fique claro: ser oposição não significa silenciar a voz de quem nos elegeu. Ser oposição não é humilhação alguma. É serviço cívico. É democracia. É fazer o papel de grilo falante nos ouvidos de um Pinóquio que, de cada vez que abre a boca, afirma iniquidades e destrói o trabalho feito anteriormente porque sim. Preocupado com o seu futuro e não com o de quem há de vir.