Ora aí está este clima esquisito. Ontem choveu. Em várias regiões de Angola. Num ano em que quase não cacimbou, essa neblina matinal, e não só, fria, molhada, penetrante até aos ossos, este ano andou ausente. Não sei se por causa da "coisa", que tem alterado horários, regras, leis, se por causa do aquecimento global, do buraco do ozono, do degelo dos glaciares. A verdade é que já choveu num tempo que costuma, ainda, ser de frio. Choveu num tempo que costuma mandar o calor para outras páginas do calendário e que, este ano, andou por aí a aquecer o ar.
Não sei se por essa razão, se por outras que nada têm a ver com o clima, se com a "tal coisa" que anda por aí a baralhar a vida de toda a gente.
Mas vamos esquecer o cacimbo, a chuva, o degelo e os glaciares que até ficam bem longe de Angola.
Este mês é Agosto, é mês de festas, de comemorações e recordações na cidade do Lubango. Essa cidade aninhada num cálice de montanhas verdes, no cimo da serra da Chela, que encantou os homens e mulheres da Madeira quando, depois das agruras do deserto, do calor, da poeira e do cansaço, deram de olhos com um espaço entre montanhas, verde, atravessado por três ribeiras, qual paisagem funchalense. Mas, não obstante tudo, nem sempre o que os olhos veem mata as saudades do coração. E de coração no peito e mãos à obra, foram erguendo um povoado, primeiro com casas triangulares, quais casas de Santana, foram rasgando caminhos e traçando levadas que, descendo dos abismos da serra vieram dar vida e vigor aos campos e pomares. E o povoado foi crescendo e tornou-se cidade. Mas faltava, ainda, a protecção da Virgem, Senhora de tantas crenças e milagres. E, no mais alto da beira do cálice de serras feito, ergueram, em devoto trabalho, uma capela à Senhora. Pequenina. Sem a grandeza da Igreja do Monte lá da sua Ilha, mas que, na alvura das suas paredes sobressai do verde, lembrando aqueles que, pelo seu esforço, luta e empenho, fizeram História numa terra imensa, a milhares de quilómetros da sua ilha pequenina. Lá dentro, da capelinha singela colocaram a imagem da Senhora, réplica daquela que, no longe do mar Atlântico, deixaram um dia, na esperança de um eterno olhar que os protegesse na distância de uma nova terra.
Nestes dias de comemoração de Agosto o Lubango é um pedaço da Madeira.