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Artigo de Opinião

Acho importante que o trânsito no Funchal seja estudado, mas espero que sejam encontradas soluções que foquem o problema na sua raiz, em vez de tentarem apenas tratar os sintomas, previsivelmente com mais betão e alcatrão. A construção de mais estradas não irá diminuir o trânsito, irá apenas deslocalizar as viaturas de umas vias para outras, e irá inclusivamente incentivar a circulação automóvel nos principais centros urbanos da Madeira.

Será que já se questionaram porque é que temos tanto trânsito concentrado nas horas de ponta numa cidade com apenas 106.000 habitantes? Na minha opinião a resposta é simples: temos muita gente a viver na periferia do Funchal e concelhos vizinhos, mas que trabalham ou têm filhos a estudar próximo do centro do Funchal. A população do Funchal, Câmara de Lobos e Santa Cruz, ultrapassa os 180.000 habitantes, distribuídos por cerca de 25km de linha de costa. Isto corresponde a mais de 70% da população da Madeira. Prevê-se ainda haver um aumento da deslocalização da população do Funchal para a periferia por conta do aumento contínuo do custo das habitações no Funchal.

Nas grandes cidades da Europa e de outros países desenvolvidos temos visto lidarem com o problema do trânsito através de variantes que orbitam numa mesma solução: em vez de promoverem o transporte privado, têm promovido o transporte público e a chamada mobilidade suave. E se "lá fora" isto tem mostrado ser a solução, porque não seria também uma solução para o Funchal?

Alguém já fez um estudo para saber quantas pessoas tem carro apenas porque não têm à disposição um meio de transporte público que seja cómodo, prático, e que esteja verdadeiramente à disposição quando necessário? Ou será que na Madeira toda a população tem carro apenas por amor à máquina? Quantas pessoas divertem-se a circular à volta do destino pretendido apenas para procurar um lugar para estacionar? E quantas mais se divertem a planear onde irão estacionar, ainda mesmo antes de sair de casa? Quem gosta de fazer contas sobre quanto irão gastar com combustível, impostos, manutenção do veículo, etc? Quantas pessoas pegam no carro de manhã, vão para o trabalho, não dão uso algum ao veículo durante toda a jornada, e só voltam a tocar no carro quando voltam para casa? Quantos pais são obrigados a meterem-se no trânsito para levar os filhos à escola apenas porque não há transportes públicos práticos que os filhos possam usar?

O Funchal e periferia precisa de mais e melhores transportes públicos. De nada serve ter uma frota de autocarros novos se os mesmos não fazem viagens em horários e trajetos que vão de encontro com as necessidades da população. Quem trabalha e está refém dos transportes púbicos depara-se muitas vezes com situações como levar duas horas para ir da Camacha até ao Madeira Shopping, situação que se agrava nos fins de semana. Como querem promover os transportes públicos havendo situações destas?

Penso que é caso para perguntar porque é que vão gastar milhões de Euros em mais túneis para atravessar o Funchal, quando o problema, muitas vezes, é aceder ao centro do Funchal. Pelo contrário, investir numa rede sólida e prática de transportes públicos iria incentivar o uso dos transportes partilhados, o que levaria inerentemente à diminuição do trânsito. Adicionalmente também iria beneficiar o ambiente, com a diminuição da poluição atmosférica e sonora. Por fim, os turistas, uma das principais máquinas da nossa economia, agradeceriam porque também iriam usufruir desses meios de transporte.

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