A este propósito, há mesmo um conceito - Zoobiquidade - detalhado no livro com o mesmo nome: Zoobiquidade - O Que os Animais nos Podem Ensinar Sobre Sermos Humanos - que vinca a necessidade desta articulação entre medicinas para a concretização de uma só saúde planetária, com enfoque no controlo, mas sobretudo na prevenção de doenças para o ser humano veiculadas por animais. Mais: discorre sobre a similitude patológica entre animais e pessoas, para potenciação de um contributo mútuo para a ciência e para a saúde de todos - ao estudar-se as doenças de uns estamos a contribuir para uma eventual cura de todos. Um exemplo que o confirma, é o estudo da Etologia - muito do que hoje se sabe sobre o comportamento humano, teve como base inúmeros estudos prévios do comportamento animal, ou seja, há muito no reino dos animais que nos pode ser ensinado, e a necessidade de interdisciplinaridade é evidente.
Este recente conceito, de Zoobiquidade (resulta do grego Zo com a palavra, latina, para ubiquidade, em todo o lado) foi avançado por uma médica cardiologista, para defender precisamente a importância dos médicos, humanos e veterinários, partilharem entre si conhecimentos e experiências científicas sobre as doenças, sobretudo as que afetam, em comum, seres humanos e animais. Sim, porque uns e outros, humanos e animais não humanos, partilham das mesmas doenças. Abordando os aspetos que partilhamos e partilhando-os entre saberes, estes conhecimentos podem (devem) ser aplicados no diagnóstico e na cura de doentes de todas as espécies. Ou seja, no seguimento de um outro conceito, o One health (Uma só saúde para todos), a zoobiquidade propõe igualmente uma abordagem integrada e interdisciplinar da saúde, com o intuito de detetar as interligações entre a medicina humana e a medicina veterinária e as suas implicações para doentes humanos e não humanos.
São muitas as similitudes nas doenças que afetam ambos, sabendo-se que cerca de 75% das doenças emergentes em humanos são de origem animal, as zoonoses. Mas há outras, doenças, de carácter não zoonótico, que partilhamos com os animais e portanto, trocar impressões entre as "coutadas" da medicina, humana e animal, só nos pode beneficiar a todos numa melhor saúde. A exemplo, menciona-se, em comum, doenças como a obesidade, AVC`s, automutilação, cancro, artrite, asma, cardiopatias, anorexia, depressão e ansiedade, etc., com forte correlação entre animais e humanos. Conhecendo a abordagem clínica (e tratamentos) tanto dos médicos humanos como dos médicos veterinários (que têm uma enorme diversidade de espécies animais como pacientes) abre-se um novo caminho de abordagens inter-espécies para todos os profissionais da saúde, que pode reverter-se na sua atuação clínica e no sucesso terapêutico dos seus pacientes.
Esta interligação de medicinas numa ótica de "medicina comparada" não só melhora a interface da saúde humana (e animal) como também perspetiva um outro entendimento sobre a natureza e causas das doenças. Numa Era global, a zoobiquidade só pode ser vista como uma estratégia, que se quer efetiva, para a colaboração e comunicação interdisciplinar, a nível mundial, podendo levar à resolução (e antecipação) de problemas de saúde de escala epidémica e /ou pandémica, como o recente Covid19.