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Especialistas internacionais avisam que as migrações são o desafio que a Europa tem de resolver com urgência

Data de publicação
23 Setembro 2024
12:31

O fenómeno migratório da Europa esteve em debate, esta manhã, em Paris, no Encontro Internacional para a Paz. Os problemas com que se deparam os diferentes países não tem uma solução fácil, mas os especialistas de todo o mundo entendem que é preciso atuar não só no acolhimento e na socialização, como também nos países de origem.

O presidente das Assembleia Legislativa da Madeira participou, esta manhã, no Fórum denominado ‘Uma política de futuro para a migração’, uma temática de extrema importância para a Conferência das Assembleias Legislativas Regionais Europeias – CALRE, da qual José Manuel Rodrigues é, também, presidente.

O líder madeirense recomendou que seja dada mais atenção à nova ordem política internacional, “porque a instituições que existem para regular essa ordem são do pós Segunda Guerra Mundial. O mundo já evoluiu muito e é necessário adequar essas instituições, designadamente a Organização das Nações Unidas, a própria União Europeia e a NATO, à nova realidade social, política e económica”.

E desse ponto de vista, as migrações são um dos maiores desafios para a Europa, “que é procurada por pessoas que procuram novas oportunidades de vida, fugindo das guerras, dos conflitos, das perseguições políticas e religiosas, à pobreza e às alterações climáticas”, vincou o presidente do Parlamento madeirense.

“O acolhimento e a integração” é uma das estratégias defendidas pelos dirigentes internacionais, ideia partilhada, também, por José Manuel Rodrigues, que lembra que “a Madeira, como terra de emigrantes, tem o dever acrescido de acolher com justiça e solidariedade todos os que procuram as nossas ilhas para trabalhar. Os imigrantes devem ter os mesmos deveres e os mesmos direitos que os madeirenses. Nem mais nem menos. São pessoas como nós, é verdade que com religiões e culturas diferentes, mas com o objetivo comum de ter uma oportunidade de vida e de melhorar a vida das suas famílias”, afirmou.

José Manuel Rodrigues enfatizou a importância dos imigrantes, pessoas que vêm de outros países para o mercado de trabalho em Portugal, sobretudo para setores da construção civil, da hotelaria e do turismo. “A imigração tem de ser vista como uma oportunidade de desenvolvimento e não como uma dificuldade”, concluiu.

O presidente do Parlamento madeirense enalteceu a iniciativa do encontro promovido pela Comunidade de Sant’Egidio, por ser “uma excelente oportunidade para ouvir líderes políticos, religiosos e académicos de todo o mundo sobre o que se está a passar no nosso planeta, quer em termos de conflitos, com 56 guerras em curso, quer em termos de migrações”.

Daniela Moritz, da Comunidade de Sant’Egidio, fez um balanço positivo ao arranque dos trabalhos, “porque a escolha das pessoas que vêm dos vários países demostra já uma disponibilidade para o diálogo, que falta ao mundo. Quando as pessoas aceitam falar e conversar, então tudo pode acontecer”, salientou.

Milhares de pessoas vieram a Paris “imaginar a Paz, porque as pessoas comuns querem a Paz”, referiu Daniela Moritz.

O fenómeno dos refugiados é um problema global, que preocupa também a Itália. A guerra faz acentuar o problema. “Se acabarmos com as guerras, de certeza que vai diminuir o número de pessoas que fogem do seu país. É um problema complexo que não pode ser enfrentado com medo. A convivência cultural e a compreensão mútua ajuda a resolver, mais do que as políticas populistas que vemos nas nossas sociedades”, rematou.

A Comunidade de Sant’Egídio está instalada em Portugal a ajudar sobretudo os mais pobres, com espacial atenção para as crianças, “porque se acredita que a partir das crianças o mundo pode mudar”, salientou Daniela Moritz, responsável pela escola de Língua e Cultura Italiana de Roma que acolhe todos os anos mais de cinco mil refugiados, que procuram através da língua encontrar a chave para entrar numa sociedade nova.

Em todo o mundo há 117 milhões de pessoas deslocadas por causa dos conflitos, um fenómeno para o qual os especialistas defendem soluções urgentes, com políticas sensatas, sem os populismos que muito têm contribuído para a desinformação e para o aumento da descriminação.

Daniela Pompei, professora e membro da Comunidade de Sant’Egidio que tem salvo milhares de refugiados, falou da experiência da Itália com as migrações e das evoluções legais que precisam de ser implementadas no acolhimento dos novos cidadãos, os que acabam de chegar.

“Temos de mudar as nossas atitudes. Quem chega à Europa representa uma mais-valia para o futuro. Fechar as fronteiras não é solução”, disse apelando a uma maior aposta no acolhimento.

Já Dedier Leschi, Diretor Geral dos Serviços franceses de emigração e integração, explicou que na Europa 3% da população é emigrante. “30% dos imigrantes em França vivem abaixo do limiar da pobreza e isso tem a ver com as baixas qualificações que colocam entraves na hora de procurar trabalho. Muitas vezes não sabem falar, ler e escrever na língua do país de acolhimento. E isso representa um problema para a organização social”. Dedier Leschi diz ser urgente dar uma melhor resposta ao problema da integração e propôs um pacto cívico para analisar a temática.

Dominique Quinio, jornalista francesa, explicou que a complexidade do problema não tem uma solução simples. “A Alemanha que procura fechar as fronteiras, o Reino Unido que pretende limitar a entrada de estrangeiros, o aumento da violência contra estrangeiros por má interpretação da sua origem, são posturas que causam entraves e acentuam desigualdades”, por isso a jornalista sugeriu apoios não só dentro dos países de acolhimento como nos países de origem, atuado no desenvolvimento económico e social, na democracia e até no combate às alterações climáticas, problema que também está na génese do fenómeno migratório.

Perante o envelhecimento da população, os emigrantes são de extrema importância porque ajudam a preencher lacunas do mercado, como é o caso da construção civil e dos cuidados de idosos. “A inclusão e a integração não podem ser feitas por decreto, é preciso testar e experimentar para alcançar a melhor solução”, rematou Dominique Quinio.

Esta segunda-feira o Encontro Internacional para a Paz desenvolve um ciclo de palestras e debates sobre várias temáticas. Até ao final do dia vão acontecer 14 Fóruns.

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