A Paz é possível, foi o sentimento, em tom de esperança, mais transmitido na sessão de abertura do Encontro Internacional para a Paz, que arrancou este domingo em França, e que trouxe a Paris milhares de dirigentes religiosos, políticos e da sociedade civil, no qual participa, também, o presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, José Manuel Rodrigues, a convite da Comunidade de Sant’Egidio e da Arquidiocese de Paris.
O presidente da França, que presidiu à cerimónia, mostrou-se preocupado com o aumento do número de guerras. “Há mais de 50 conflitos em todo o mundo”, disse Emmanuel Macron perante uma plateia de mais de 3.500 pessoas que encheram o Palais de Congrès.
“A luta pela Paz tem de ser pelo diálogo”, começou por defender. Emmanuel Macron apontou a coexistência entre os povos como a chave para a Paz no Médio Oriente.
“Imaginar a paz é um desafio porque a Paz é mais precária do que a guerra. A Paz é infinitamente mais frágil, disse. Por isso apelou à defesa da “reumanização”. “Para poder imaginar a paz é necessário reumanizar, compreender e estar no lugar do outro e as religiões têm um papel fundamental”, vincou o Presidente francês.
“A guerra só acaba quando cada uma das partes reconhecer a existência da outra. Devíamos aprender a viver numa mesma terra, e isso é claro no Médio Oriente. Quem pensa o contrário alimenta uma guerra interna. É necessário conviver, condição essencial para imaginar a Paz. A solução não é destruir o outro, mas construir a convivência”, insistiu.
No plano europeu, Macron reconhece o retrocesso da Paz, e afirmou ser preciso imaginar a Europa de uma nova maneira. “Avancemos com a ideia de uma nova forma da Europa, se queremos construir a Paz no continente”, defendendo ao mesmo tempo “uma nova ordem internacional”, que permita abordar as questões que mais preocupam a humanidade, como a Paz, o clima e a tecnologia.
Laurent Ulrich, Arcebispo de Paris, disse que é preciso por em marcha a solidariedade e a fraternidade. Enalteceu o encontro internacional que Paris acolhe pela primeira vez e que acontece num contexto migratório, apelando, ainda, ao empenho de todos na construção de uma sociedade mais humana.
Haim Korsia, Rabino-chefe de França, lembrou que “onde existe perigo há sempre alguém que quer salvar”, e por isso pediu a união de todos religiosos no empenho de sonhar a paz.
Enalteceu o trabalho desenvolvido pela Comunidade de Sant’Egidio, sugerindo mesmo o nome de Andrea Riccardi, ex-ministro da Integração de Itália e fundador da Comunidade, para Prémio Nobel da Paz.
Do Afeganistão chegou o testemunho de Lina Hassini, que falou de um país que vive em guerra há 30 anos de guerra. Refugiada na Bélgica, com a ajuda da Comunidade de Sant’Egidio a jovem referiu-se à morte do pai às mãos dos talibãs e aos horrores, aos ataques suicidas e à opressão que atinge com mais intensidade as mulheres. Chegou à Bélgica através da Comunidade de Sant’Egidio. “A vida em Cabul nunca foi fácil”, confidenciou.
Lina Hassini, a mãe e as irmãs vivem agora na Europa. “Obrigado por terem acreditado neste direito de viver em liberdade. Juntos podemos contribuir para que todos possamos ter um futuro mais justo e mais equitativo”, reforçou em tom emocionado.
Todos os intervenientes foram unânimes: crentes e não crentes têm o dever de construir o caminho da Paz.
Andrea Riccardi, Professor e fundador da Comunidade de Sant’Egidio, apontou a existência de uma crise na cultura da Paz, referindo que a causa está na falta de memória do passado, que fez esquecer a brutalidade do que é uma guerra.
Criticou a eternização dos conflitos e as denominadas “guerras santas”. “Isso é uma blasfémia”, salientou num tom mais forte.
“A construção da paz faz-se com diálogo, diálogo. As religiões são chamadas, pelas suas tradições, a construir uma sociedade onde homens e mulheres não sintam ódio”, concluiu.
Esta segunda-feira abrem-se os caminhos dos debates em fóruns temáticos.
Na terça-feira, o presidente da Assembleia Legislativa encerra os trabalhos, no Fórum 21 dedicado precisamente à “coexistência entre os povos”.
“Imaginar a Paz” é o lema do Encontro Internacional pela Paz, que decorre em Paris.