A discursar na sessão de abertura do IV Fórum Regional de Combate à Pobreza, que decorre no salão nobre da Assembleia Legislativa da Madeira, o presidente do Parlamento centrou a sua intervenção em três questões.
A primeira é o aparecimento de novas causas de exclusão, motivadas por razões económicas, nomeadamente os salários baixos praticados no mercado de trabalho.
“Não podemos aceitar que 15 por cento dos madeirenses que trabalham sejam classificados de ‘pobres que trabalham’, isto é, pessoas cujo ordenado que ganham não é suficiente para pagar as suas despesas mensais”, vincou José Manuel Rodrigues.
O presidente da Assembleia lembrou as taxas de crescimento económico em vários setores, “sem paralelo na nossa história; temos um aumento muito significativo do Produto Interno Bruto, à volta de 7 mil milhões de euros no ano passado”.
Contudo, “temos uma persistência de índices de pobreza que não corresponde a esta realidade, o que nos leva a concluir que a riqueza criada na Madeira não está a ser distribuída de forma socialmente justa. Vamos ser claros: a melhor forma que, até hoje, conhecemos de retirar as pessoas da pobreza e da exclusão é através dos rendimentos e de salários justos, que permitam pagar o custo das suas vidas. A persistente inflação que se verifica na Madeira, na ordem dos 3,3 por cento, muito superior à média nacional e europeia, e a enorme escalada dos preços da habitação, quer da compra quer do arrendamento, agravaram esta situação e precisam de respostas rápidas do Governo Regional”, alertou Jose Manuel Rodrigues.
“Não há verdadeiro crescimento económico se este não for acompanhado de um real desenvolvimento social”, realçou ainda. Como segunda nota, José Manuel Rodrigues abordou as qualificações e formações dos jovens. “É uma evidência que a maior das desigualdades sociais, aquela que está na raiz de todas as outras, é a desigualdade do conhecimento”, afirmou.
Com a Democracia e a Autonomia, foram dados passos essenciais no acesso de todos os cidadãos à Educação, “mas é óbvio que a condição social e o rendimento das famílias são, ainda, condicionantes da formação das nossas crianças e jovens.
“E todos sabemos que a uma melhor qualificação de um cidadão corresponde um melhor salário, um melhor rendimento, uma melhor integração social, e é por isso que devemos continuar a pugnar por uma igualdade de oportunidades para todos, independentemente da origem e condição económica e social de cada um”, disse.
Como terceiro ponto, a imigração. “Os imigrantes são, hoje, decisivos no funcionamento da nossa economia, nomeadamente na construção civil, no turismo e na restauração, e não fora o seu trabalho, estaríamos longe dos ritmos de crescimento registados na Região. Já nos habituámos de tal forma a esta realidade que, por vezes, nem temos a consciência do quanto estes imigrantes do Indostão - em especial são estes os que nos procuram - contribuem para a nossa vida coletiva. Mas cuidado com a forma como estamos a acolher e a tratar estas pessoas. Não podemos tratá-las apenas como números, como ativos, como mera mão-de-obra de que precisamos para satisfazer as nossas necessidades, chamou a atenção.
Recordando um relatório do Banco Mundial, divulgado recentemente, que indica que os 25 países mais pobres do Mundo estão mais endividados do que nunca, mais vulneráveis do que antes da pandemia, o responsável disse que “o Mundo está mais desigual, mas aqui, bem perto de nós, em cada esquina das nossas cidades, em cada recanto das nossas freguesias, a pobreza está presente, e é nosso dever tudo fazer para corrigir as assimetrias sociais e, sobretudo, combater as causas e consequências que nos conduziram a esta realidade das nossas comunidades.
“No dia em que formos indiferentes perante estes factos, em que nos dermos por vencidos face a esta situação, estaremos a sucumbir à maior vergonha das nossas sociedades”, acrescentou. A concluir, afirmou que “nunca tivemos tanto e nunca estivemos tão distantes uns dos outros”, esperando que saiam respostas importantes no decorrer do forum.