O fenómeno recente dos emigrantes de meios urbanos com menores hábitos de associativismo é um dos novos desafios da relação do Estado com a diáspora lusa, disse hoje o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.
“[A emigração urbana] é uma emigração completamente diferente. O sentido associativo é menor, é mais individualista. É mais difícil chegar até essa gente, mas é fundamental fazê-lo”, disse à Lusa José Cesário.
O secretário de Estado falava à margem da sessão de abertura da 7.ª edição do Curso Mundial de Formação de Dirigentes Associativos das Comunidades Portuguesas, que se realiza em Faro até quarta-feira, com a presença de mais de duas dezenas de representantes oriundos de 11 países (África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Estados Unidos, França, Luxemburgo, Suíça e Venezuela).
No seu discurso, o responsável abordou a mudança “radical”, face ao que era “um fenómeno eminentemente rural”, que se verificou na emigração nos últimos 10/15 anos, quando começaram a sair do país os “filhos da pequena e média burguesia urbana, particularmente de Lisboa e do Porto”.
À Lusa, José Cesário assinalou ser necessário trabalhar em “duas vertentes muito importantes” na diáspora: os “muitos milhões” de lusodescendentes “espalhados pelo mundo todo” e “a parcela do novo emigrante”, em países com níveis de participação associativa que “não são tão frequentes”.
“Esse é um trabalho que nós vamos fazendo, evidentemente, assumindo também algum desconhecimento relativamente à forma como havemos de lidar com estas realidades”, reconheceu, exemplificando com as novas comunidades que estão hoje nos países do Norte da Europa, como Países Baixos, Noruega, Dinamarca, Suécia, ou nos países do Golfo Pérsico, “onde não há associações”.
Sem as associações, sublinhou o secretário de Estado, “é muito difícil chegar às comunidades, é muito difícil fazer trabalho social e dar apoio social onde ele faz mais sentido e onde ele é mais necessário, é muito difícil fazer o trabalho de divulgação da língua e da cultura, e até tornar às vezes Portugal visível”.
O Governo está a “tentar desenvolver estratégias” para chegar até esses portugueses, para, “a partir daí, poder haver forma de os contactar, não individualmente, que isso não é possível, mas em grupos”.
Em Dubai e Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, já foram identificadas “umas dezenas muito largas” de famílias que têm contacto com a embaixada e que têm crianças com necessidades em termos de formação na língua portuguesa, o que vai implicar investimento do Estado, ressalvou.
No Norte da Europa, o Governo também está “a procurar explorar” alguns contactos, sobretudo na Dinamarca e na Noruega, enquanto nos Países Baixos “há já algum movimento associativo”.
“Há também dificuldades muito grandes no Reino Unido, fora da Grande Londres, onde também não há associações e há uma quantidade enorme de portugueses”, acrescentou o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.
Faro acolhe o terceiro curso de formação para dirigentes associativos de comunidades portuguesas realizado em 2024, depois dos eventos de Braga e Santa Maria da Feira, e o objetivo do Governo passa por continuar estas ações em 2025, com a meta de “mobilizar entre 600 a 700” representantes da diáspora lusa.
“Do que eu conheço das comunidades, isto é o caminho mais eficaz para podermos esbater dificuldades, o isolamento e a falta de articulação entre as entidades, e criar estas redes que são indispensáveis à escala global”, referiu José Cesário.