A Human Rights Watch (HRW) considerou hoje que a eleição de Donald Trump como o 47.º Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) representa uma “grave ameaça aos direitos humanos” quer no país, como no mundo.
Para justificar as suas preocupações, a organização não-governamental (ONG) apontou, em comunicado, o “historial de abuso de direitos de Trump durante o seu primeiro mandato”, destacando “o seu abraço aos apoiantes e à ideologia da supremacia branca”.
A HRW criticou ainda as “políticas antidemocráticas e anti-direitos extremos propostas por grupos de reflexão liderados por antigos assessores [de Trump] e as promessas de campanha, incluindo a de reunir e deportar milhões de imigrantes e retaliar contra adversários políticos”.
No mesmo comunicado, a organização recordou a recolha que fez das “violações de direitos” durante a primeira administração Trump, entre 2017 e 2021, como as “políticas e esforços para expulsar requerentes de asilo e separar famílias na fronteira EUA-México” ou “alimentar uma insurreição violenta para derrubar os resultados de uma eleição democrática”, numa referência à invasão do Capitólio (sede do Congresso norte-americano) ocorrida em 06 de janeiro de 2021.
A HRW acrescentou críticas aos elogios que Trump faz a “autocratas como Viktor Orbán [primeiro-ministro húngaro], Vladimir Putin [Presidente russo] e Kim Jong-Un [líder da Coreia do Norte]”.
“A ameaça de abuso do poder executivo é ainda mais preocupante devido a uma recente decisão do Supremo Tribunal dos EUA que concede aos presidentes uma ampla imunidade de ação penal por atos oficiais praticados no exercício do cargo”, frisou.
A organização notou ainda que apesar do republicano ter negado ligação ao Projeto 2025 (um programa governamental desenvolvido por grupos ultraconservadores), que “detalha muitas outras políticas abusivas”, “muitas das suas declarações refletem premissas” desse documento, além de censurar a sua defesa de “políticas extremas” em termos de migrações, como a detenção ou deportação “em massa”.
Outro tema abordado é a esperada “ameaça crescente” ao “direito ao aborto” dada a “insistência” de Trump em defender que os “Estados devem ter o poder de bloquear o acesso aos cuidados básicos de saúde”, provocando, por exemplo, “mortes evitáveis” e criminalização de decisões privadas, segundo a ONG.
Também a eventual retaliação contra “inimigos políticos” ou a sugestão de invocar a Lei da Insurreição para “mobilizar as forças armadas e a guarda nacional dos EUA” contra quem integre protestos também são censuradas pela HRW, que notou como Trump não combateu “governos repressivos” ou como se opôs ao progresso ambiental nas Nações Unidas e ao financiamento de ajuda humanitária.
“Instituições e funcionários que respeitam os direitos precisam de manter a linha durante a administração Trump”, defendeu Tirana Hassan, diretora executiva da ONG, citada no comunicado.
Donald Trump, 78 anos, já reivindicou a vitória nas eleições presidenciais de terça-feira, embora os resultados finais ainda não tenham sido confirmados.
“Quero agradecer ao povo americano a extraordinária honra de ser eleito o vosso 47.º Presidente”, disse aos apoiantes no Centro de Convenções de Palm Beach, no estado da Florida.
Quando ainda decorre o apuramento dos resultados, e segundo as projeções conhecidas, o republicano já ultrapassou os 270 votos necessários no Colégio Eleitoral para regressar à Casa Branca (presidência dos EUA).
Trump segue também à frente da adversária democrata Kamala Harris no voto popular, com 51,1% contra 47,4% dos votos contados.
O Partido Republicano recuperou ainda o Senado (câmara alta do Congresso) ao ultrapassar a fasquia de 51 eleitos, enquanto na Câmara dos Representantes (câmara baixa) segue igualmente na frente no apuramento com 201 mandatos, a apenas 17 da maioria.