Um empresário suíço-iraniano preso em Milão três dias antes de a jornalista italiana Cecilia Sala ter sido detida no Irão disse hoje que é um académico e não um terrorista, enquanto tenta evitar a extradição para os EUA.
O pedido de extradição de Mohammad Abedini Najafabadi assenta na acusação, por parte dos Estados Unidos da América, de fornecer partes de ‘drones’ alegadamente usados em janeiro num ataque que matou três militares norte-americanos na Jordânia.
A detenção do empresário no aeroporto de Malpensa, em Milão, em 16 de dezembro terá levado à prisão em Teerão, em 19 de dezembro, de Sala, uma correspondente ‘freelance’ do jornal Il Foglio e ‘podcaster’ do Chora News que foi genericamente acusada de violar a lei islâmica e é amplamente vista como sendo usado pelo regime como um peão para recuperar Abedini, cujo alegado cúmplice Mahdi Mohammad Sadeghi foi preso nos EUA também em 16 de dezembro.
Ambos os homens foram acusados por Washington de tráfico de peças eletrónicas de ‘drones’ supostamente utilizadas no ataque fatal de janeiro passado contra militares perto da fronteira entre a Jordânia e a Síria.
“Sou um académico, um estudioso: certamente não sou um terrorista. Não compreendo esta detenção, não consigo compreendê-la”, disse Abedini através do seu advogado, Alfredo de Francesco.
Abedini fez a declaração durante uma reunião com o cônsul iraniano em Milão, na prisão de Opera.
A Itália diz que está a trabalhar incansavelmente, mas com discrição, para trazer Sala, uma repórter de 29 anos nascida em Roma, cuja detenção como possível troca de reféns estimulou uma onda crescente de apoio ‘online’ com a ‘hashtag’ #FreeCecilia.
Uma obra de arte de rua apareceu em Paris mostrando Sala algemada no Irão com uma mordaça na boca.
A obra criada com inteligência artificial pelo artista de rua italiano Ozmo foi deixada numa parede no centro de Paris na noite de segunda-feira para chamar a atenção para a situação de Sala na famosa prisão de Evin, em Teerão.
“Pensei nesta intervenção para sensibilizar o público francês e internacional sobre as violações dos direitos humanos a que Cecília está sujeita”, explicou a artista à agência noticiosa italiana Ansa.
O Irão confirmou na segunda-feira a detenção de Cecilia Sala por ter alegadamente “infringido as leis” durante uma estadia profissional com visto de jornalista.
O Departamento Geral de Comunicação Social Estrangeira do Ministério da Cultura e Orientação Islâmica do Irão confirmou, num comunicado, a detenção de Cecilia Sala “por violar as leis da República Islâmica do Irão”, segundo a agência de notícias oficial iraniana IRNA.
“A cidadã italiana chegou ao Irão em 13 de dezembro com um visto de jornalista e foi detida no dia 19 por violar a lei da República Islâmica do Irão”, referiu a nota, sem especificar o delito cometido.
“O caso está sob investigação. A detenção foi realizada de acordo com a legislação em vigor e a embaixada italiana foi informada. Foi-lhe concedido o acesso consular e o contacto telefónico com a família”, indicou o comunicado.
Cecilia Sala, de 29 anos, segundo relatos dos meios de comunicação social, está isolada numa cela da prisão de Evin, em Teerão.
A Itália afirmou na sexta-feira que a detenção da jornalista é inaceitável.