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Artigo de Opinião

31/12/2025 08:00

A horas do famoso fogo-de-artifício de fim-de-ano na baía do Funchal, podia soltar loas e desfazer-me em desejos de paz e prosperidade a rodos. Como sou chato, conhecido nas minhas bolhas sociais como um desmancha-prazeres, prefiro lembrar as incoerências e desonestidades intelectuais, pequenas e grandes, que podemos corrigir no novo ano.

Vou começar pelo mistério do Grande Apagão Argentino. A campanha do actual presidente argentino foi sobejamente noticiada, em tom de gozo ou de enorme alarme, por se tratar de um perigoso (diziam-nos) liberal com todos os mais nefastos prefixos hifenizáveis que então se arranjavam. Um ano depois, a imprensa convencional nada ou pouco nos esclarece sobre as horrendas consequências das malfeitorias que o louco da motosserra por lá tem andado a perpetrar. Uma vez que o provérbio diz que as más notícias viajam depressa, talvez até seja bom para os argentinos haver pouca notícia. Ou isso, ou talvez a nossa imprensa não queira dar a ideia errada aos parolos cá da terra. Não sei. Não sei, mas li, porque me chegou ao ecrã um artigo do Instituto +Liberdade sobre o primeiro ano do doido despenteado. Aconselho os curiosos a procurá-lo: quem sabe se não ficam com mais munições contra o perigoso maluco?

Outra incoerente loucura que sempre me incomodou é a de exigirmos constantemente sol na eira e chuva no nabal, uma impossibilidade lógica — “não se pode ter tudo” é uma lição sem preço. Todos queremos turistas que alimentem a nossa economia, mas não os turistas que nos obrigam a desviar os passos nos tratuários sobrelotados. Queremos fazer um dinheiro extra alugando a turistas o T0 que deixamos para trás quando a família aumentou, mas não queremos que os preços das rendas subam por aumento da procura pelos sacripantas dos estrangeiros. Queremos manter as encostas livres de mais telhados, ou os nossos céus livres de construção em altura, mas queremos que do chão brote mais habitação — só para locais! Queremos preços baixos porque sim, porque a propriedade dos outros deve servir-nos, não aos seus proprietários — quem vos manda ter coisas, seus lambões?

Também é preciso confessar que apesar de andarmos por aí a queixarmo-nos da perda de identidade cultural com a chegada em barda de turistas, depois defendemos que a cultura dos que recebemos de braços abertos na imigração deve ser assimilada, em vez de serem eles a adaptar as suas culturas à da terra. Queixamo-nos de já não ouvir português puro nos cafés da cidade, mas não aceitamos os empregos que eles ocupam, nem arriscamos abrir os negócios que eles abrem. E não somos racistas, atenção! Mas que esta estrangeirada toda, turistas e imigrantes, vem para aqui estragar-nos a pacatez quotidiana, vem. E são muitíssimo bem-vindos, claro, desde que à nossa medida, seja qual for a de cada um.

Não queria acabar o ano com sarcasmo.... Minto: adoro sarcasmo e sou pouco simpático com as incoerências, mesmo que minhas.

Recomeçando: não queria acabar o ano numa nota tão agressiva, pronto, mas não sou fã da protecção exagerada às mentes infantis, incluindo a minha. Uma criança sobre-protegida não dá um adulto preparado; antes pelo contrário. Num mundo onde um período próspero, aparentemente pacífico (para nós, neste canto do mundo) e anormalmente longo parece ter acabado, o terror latente destas gerações privilegiadas, criadas sem guerras nem provações a sério, exige que sejamos brutalmente honestos para connosco.

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