Cerca de 40.000 alunos recomeçaram hoje as aulas sem terem todos os professores, de acordo com cálculos da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) hoje apresentados.
“No início de dezembro eram cerca de 32.000 os alunos que não tinham os professores todos”, disse o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, indicando que no último mês do ano se aposentaram 371 docentes e que em janeiro vão aposentar-se mais 434.
De acordo com a mesma fonte, quase 2.000 alunos têm um professor em falta desde o início do ano, ou seja, têm uma disciplina a que nunca tiveram aulas.
“Isto é extremamente gravoso, porque significa para muitos alunos quase uma impossibilidade de recuperar um período inteiro”, devido a três meses sem aulas. “Evidentemente que há aqui também uma discriminação social e financeira das famílias que vai permitir que algumas encontrem fora da escola a compensação que a escola não pôde dar, porque não tinha professores, e outras que não têm essa possibilidade”.
Mário Nogueira defendeu que a falta de professores foi ainda “disfarçada” com um recurso “que não se via há décadas” a diplomados que não são professores profissionalizados. “O Ministério da Educação alargou até a possibilidade de outros diplomados poderem dar aulas”, afirmou Mário Nogueira.
As estimativas da Fenprof apontam para 200.000 alunos que não têm todos os professores profissionalizados.
As disciplinas com mais carência de professores são informática, português, história e matemática (do 3.º ciclo e ensino secundário), segundo um levantamento efetuado pela Fenprof junto de mais de 200 agrupamentos e escolas não agrupadas.
Mário Nogueira sustentou que o problema tem solução, mas que não passa por baixar o nível da formação. Mais rápido do que formar professores, alegou, será recuperar para a carreira 20.000 professores que deixaram a docência.
“Isso consegue-se valorizando a carreira dos professores” e “eliminando a precariedade”, entre outras medidas, como a criação efetiva de incentivos para os professores destacados para zonas onde o custo de vida é mais elevado, como em Lisboa e no Algarve.
Os dados recolhidos indicam que 22,6% das escolas que responderam não conseguiram completar o corpo docente ao longo de todo o 1.º período. Menos de metade das escolas (41,3%) conseguiram completar o corpo docente até final de setembro.
O levantamento foi feito no final do primeiro período, tendo sido validadas 208 respostas completas das escolas.
Entre 01 de setembro e 31 de dezembro, aposentaram-se 1.415 professores, que se juntaram aos 2.106 que tinham ido para a aposentação entre janeiro e agosto, sublinhou Mário Nogueira.
Os números foram divulgados no dia em que foi conhecida a palavra do ano, “Professor”, divulgada pela Porto Editora, o que para a Fenprof é “um reconhecimento dos portugueses” ao papel dos professores.