Foi assim em novembro, com a queda do Governo de Costa. É assim agora, com a queda do Governo de Albuquerque bem como com a demissão de Pedro Calado da Câmara Municipal do Funchal. Levantam-se cada vez mais vozes contra a atuação da procuradora-geral da República.
Na sequência da Operação Influencer - que abalou Portugal e levou o País a ter eleições legislativas antecipadas a 10 de março, na sequência da demissão do primeiro-ministro - o antigo eurodeputado Vital Moreira sugeriu que deve ser o Presidente da República a instar Lucília Gago “de forma discreta, mas convincente, a apresentar o seu pedido de demissão”.
Afinou, na altura, pelo mesmo diapasão, o comentador Miguel Sousa Tavares, que hoje volta a reforçar a sua opinião, na rubrica 5.ª Coluna da TVI.
Mas várias outras vozes, de diversos quadrantes, partilham da mesma opinião: Lucília Gago já não tem condições para permanecer no cargo.
O presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público defendeu hoje que a PGR deveria prestar esclarecimentos sobre o caso da Madeira, embora reconheça que será a Relação de Lisboa a determinar quem avaliou corretamente os indícios.
Também a dirigente socialista Ana Catarina Mendes criticou esta quinta-feira detenções bombásticas na justiça que resultam depois em falta de indícios de crime e insurgiu-se contra julgamentos e “humilhações na praça pública”, manifestando-se indignada com a ligeireza desses casos. E deixa até várias perguntas: “O que se passa com estas investigações? Quem investiga? Como se derrubam governos e se destroem vidas sem nenhum indício de crime (segundo os juizes de instrução)? Sou só eu a ficar indignada com a ligeireza com que dias a fio se humilham e julgam as pessoas na praça pública?”.
Recorde-se que segundo o despacho do juiz Jorge Bernardes de Melo, do Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, foi aplicada a medida cautelar menos gravosa ao ex-presidente do município do Funchal Pedro Calado, bem como aos empresários.
Dias antes, o MP tinha pedido prisão preventiva, a medida mais gravosa, para os três arguidos.
A PJ realizou, em 24 de janeiro, cerca de 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias sobretudo na Madeira, mas também nos Açores e em várias zonas do continente, no âmbito de um processo que investiga suspeitas de corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, prevaricação, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, abuso de poderes e tráfico de influência.
A investigação atingiu também o então presidente do Governo Regional da Madeira (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, que foi constituído arguido e acabou por renunciar ao cargo, o que implicou a demissão do Executivo madeirense.