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Artigo de Opinião

Psicóloga Clínica

17/06/2021 08:01

Há uns poucos anos atrás, uma amiga em luto, a quem tinha falecido uma filha com 15 anos dizia-me "Queria tanto acreditar que existe algo mais para além esta vida! Queria tanto acreditar que existe Deus... mas não acredito e nunca acreditei. Sendo assim, a minha filha simplesmente acabou! Queria tanto acreditar, seria tudo tão mais fácil..." dizia, com lágrimas a escorrerem pelo rosto.

Alguém bastante jovem que tinha enviuvado, a quem tinha sido, tal como dizia, "tirado o tapete debaixo dos pés", referia, com os olhos cheios de lágrimas "Eu preciso de acreditar. Preciso de acreditar nas pessoas, preciso de acreditar que as coisas vão melhorar, preciso de acreditar que vou conseguir. O caminho faz-se caminhando, e para a frente é que é o caminho, só é preciso acreditar!".

E é esta mesmo a realidade de cada um de nós. Precisamos de acreditar. Em algo, em alguém, mas sobretudo acreditar em si próprio!

Acreditar num Deus traz conforto nos momentos de mais angústia, traz confiança de que o amanhã poderá ser melhor, traz a sensação de que a vida vale a pena, faz sentido. Acreditar num Ser ou numa força superior ajuda a compreender o inexplicável, ajuda a aceitar o que não está ao alcance do nosso entendimento, ajuda a que a vida seja mais simples. Acreditar nas pessoas ajuda a dar segundas oportunidades, dá a sensação de pertença, a sensação de que não estamos isolados, padecendo da solidão que corrói e destrói vidas. Acreditar nas pessoas ainda permite que vivamos em sociedade, que criemos laços afetivos, que nos entreguemos àqueles que amamos e escolhemos para partilhar a nossa vida. Acreditar nas pessoas traz felicidade, segurança, confiança.

Mas, na realidade, de que vale acreditar num Deus, de que vale acreditar nas pessoas se não acreditarmos em nós próprios? Primeiramente temos de acreditar no nosso potencial, na nossa intuição, nos nossos sentimentos. Temos de acreditar que podemos fazer acontecer, que temos a capacidade para mudar o que achamos errado, que conseguimos melhorar o que está bem feito. Temos de acreditar que somos únicos, diferentes de todos os outros, com características próprias, e aceitar essas características, essa individualidade, que faz de nós seres especiais. Só acreditando em nós e aceitando cada momento da nossa vida poderemos ser felizes, só assim vale a pena viver, conviver, amar, deixar-se ser amado! Só acreditando em nós poderemos acreditar num Deus, num Ser superior, em algo que nos traz tranquilidade e conforto quando dele necessitamos. Só acreditando em nós poderemos acreditar nas pessoas que connosco convivem, com quem partilhamos este mundo maravilhoso criado por alguém ou algo muito superior à nossa compreensão.

Independentemente das crenças, da forma como se vive, das relações e interações com o mundo e com as pessoas, é preciso acreditar, pois só assim a vida faz sentido! Só acreditando em si terá a capacidade de acreditar nos outros, de acreditar no mundo. Só acreditando em si poderá lutar por algo maior, pelo sentido que quer dar à sua vida.

Por vezes, é mais fácil acreditar nos outros do que em si próprio, quando se trata de uma autoconsciência por vezes difícil de definir. Mas só acreditando em si é que poderá usufruir da dádiva da vida na sua plenitude!

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
19/12/2024 08:00

O final de cada ano traz consigo um momento único de reflexão, um convite à pausa no tumulto dos dias para revisitar memórias recentes, reconhecer as dádivas...

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