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Artigo de Opinião

15/01/2021 08:05

Digo-o porque é isso que conhecemos dele e é isso com que se compromete.

Sim, é certo que o mandato não foi imaculado: a Madeira e os madeirenses têm muitas razões de queixa do Presidente Marcelo. Não esteve ao nosso lado em muitas das justas reivindicações da Região: no aval do Governo da República ao empréstimo contraído para combater as consequências da pandemia; na falta de reconhecimento pelo trabalho realizado na Região no combate à Covid-19; no facto de não ter celebrado o 10 de Junho na Madeira, num ano em que assinalámos os 600 anos de povoamento. Todavia, o seu mandato revelou um presidente atento e próximo à população, preocupado em garantir a estabilidade, tentando salvaguardar o equilíbrio e a proporcionalidade, nos terrenos pantanosos da política partidária. A direita odeia-o porque não foi o presidente da direita; a esquerda acusa-o de não ter estado ao lado das suas causas: significa isto que alguma coisa terá feito muito bem.

2 - Assisti a quase todos os debates e sinceramente pareceram-me, na generalidade, enriquecedores na medida em que nos permitiram perceber o posicionamento ideológico de cada um dos candidatos. Por exemplo, percebeu-se que Marisa Matias e Ana Gomes têm apenas como objetivo ficar à frente de André Ventura. Para além de parecer poucochinho para quem se apresente a eleições, a verdade é que se Ventura ficar em segundo lugar deve-o a António Costa e a Ana Gomes. A Costa por não ter lançado um bom candidato que reunisse, pelo menos, os votos dos indefectíveis eleitores do PS. A Ana Gomes porque a auto-intitulada paladina da justiça e da transparência trouxe para a sua candidatura um político cujo passado reflete o pior que existe na política partidária: o compadrio, a tentativa de manipulação da justiça, a falta de integridade. Toda a máquina partidária socialista tentou proteger Paulo Pedroso quando este foi indiciado no caso Casa Pia. E este é um facto indesmentível.

3 - Estou em crer que André Ventura será o segundo candidato mais votado. Por diversos motivos, mas porque, à exceção de Marcelo, nenhum candidato soube combatê-lo. Percebamos uma coisa: muitas das questões que o líder do Chega coloca são acertadas e populares. O problema não são as perguntas. O problema são as respostas, essas sim, populistas, perigosas e atentatórias de um estado humanista. Ora, o mainstream político recusa debater questões que estão à vista de todos e prefere enfiar a cabeça na areia, fingindo que não existem problemas quando deveria estar focado em apresentar respostas alternativas àquelas que são apresentadas pelo Chega. A população revê-se nas perguntas e se não são apresentadas opções nas respostas é natural que se deixe levar pela única proposta apresentada. Ao invés, nos debates, viam-se todos os candidatos irritados e empenhados apenas numa coisa: calar André Ventura. Não poderia ter melhor campanha, o líder do Chega! Quem o acusava de intolerante revelava de forma evidente a dificuldade em lidar com quem pensa radicalmente diferente. Ainda antes de Ventura poder revelar a sua intolerância, já a esquerda unida pretende ilegalizar o Chega e calar André Ventura. Para quem pretende ser defensor da democracia, não está mal…

4 - Como é natural, muito do debate tem se centrado nas questões da Saúde. E isso revelou o posicionamento ideológico de cada candidato. Os da esquerda mostraram todo o seu preconceito ideológico contra a iniciativa privada e o lucro, como se o lucro fosse uma ofensa capital. Percebemos que para João Ferreira, Marisa Matias e Ana Gomes toda a iniciativa privada e social na área da saúde deveria ser nacionalizada. Já a direita, pela voz de Mayan Gonçalves (uma revelação), mostrou que tipo de Estado pretende quando afirmou que, na Saúde, queria que as entidades públicas concorressem com as entidades privadas. O candidato parece não ter compreendido que o Estado não existe para competir com a iniciativa privada e que esta também não cobre todas as necessidades e direitos dos cidadãos. Já o afirmei por diversas vezes: um Estado forte não é um Estado que centraliza todos os serviços na administração pública, mas um Estado que garante os melhores serviços aos cidadãos, com qualidade e igualdade no acesso. Mas um Estado forte também não é um Estado que abdica da prestação de serviços até porque, devido a questões de escala, sustentabilidade e acesso democrático, há serviços que devem ser fornecidos, prioritariamente, pelo Estado, como é o caso da Saúde e da Educação. Nestas duas áreas, que são verdadeiros pilares da democracia, não é desejável concorrência, mas complementaridade no sentido de serem oferecidas as melhores respostas aos cidadãos.

5 - Marcelo será eleito à primeira volta. Todavia, talvez nunca tenhamos tido umas Presidenciais com um debate ideológico tão claro. O que para candidatos tão fracos, não é coisa pouca!

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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