O exponencial aumento do custo de vida tem afetado severamente a redução das desigualdades de rendimentos e a diminuição de pessoas em situação de pobreza e risco de privação material.
Podemos focar-nos apenas no contexto regional da RAM, ter em consideração o contexto nacional de Portugal como um todo, independentemente das conhecidas assimetrias locais e regionais, ter em conta o contexto europeu ou adotar uma lente global, tendo sempre em consideração a interação de um conjunto de fatores – demográficos (e por extensão migratórios), económicos, políticos, sociais, ambientais e também culturais.
Nos países de economia de mercado, ditos industrializados e capitalistas, os inputs (fontes) de rendimento (por via do trabalho e/ou investimento) bem como um vasto conjunto de outras circunstâncias determinam (ou pelo menos contribuem para determinar) as condições de vida de cada um de nós. Entre as circunstâncias individuais e/ou familiares encontram-se por exemplo o nível de endividamento da pessoa e/ou agregado, a ajuda e/ou suporte social da família, a existência de algum tipo de incapacidade seja ela permanente ou temporária, as transferências sociais, a condição habitacional e questões de emergência individual/familiar que possam ocorrer num determinado momento das nossas vidas. Assim, em termos práticos, são estas circunstâncias individuais e/ou familiares em conjunto com os inputs financeiros em termos de rendimento (trabalho e/ou investimento) que determinam a nossa condição e padrão de vida e consequentemente um maior ou menor risco de pobreza e privação material.
O que será, pois, para cada um de nós uma condição de vida aceitável à luz dos padrões e desafios atuais que vivemos em 2024, seja na RAM, em Portugal, ou por exemplo no contexto europeu? Do mesmo modo, para quem se encontra por exemplo nos Estados Unidos, Venezuela, Brasil ou África do Sul? A resposta depende de um conjunto de fatores. Serão eles o nível diário de proteínas que ingerimos (refiro-me à nossa alimentação), ao estado e nível de cuidados com a saúde oral, ao uso e/ou disponibilidade para vestir roupa adequada à estação do ano e/ou clima, ao uso de calçado apropriado, à condição em nos adaptarmos à temperatura (por exemplo na nossa habitação), à capacidade para pagar as despesas mensais (água, eletricidade, gás, telefone e internet, por exemplo), à capacidade e disponibilidade de nos deslocarmos, por exemplo através de transporte público, à possibilidade de podermos participar em celebrações e ocasiões festivas, ter disponibilidade financeira extra para a aquisição de pequenos “mimos”, a compra de pequenos presentes, e por fim, conseguir por exemplo dispor de uma quantia extra para pagar uma inesperada reparação mecânica e/ou habitacional.
Assim, caso não consigamos realizar e/ou cumprir pelo menos duas ou mais das referidas tarefas, encontramo-nos em situação de privação material, que para determinadas pessoas pode ser ligeira, e para outros caracterizar-se num grau severo.
Estando nós no mês de agosto, quantos de nós conseguem realizar todas as dimensões? Algumas delas permitem-nos ter a possibilidade de ir a um restaurante, ao cinema, viajar ou até mesmo proporcionar diferentes atividades de lazer. Estaremos nós em situação de privação material? Estarão as condições de vida atuais sendo balizadas pelo poder de compra do nosso turismo e atração de novos residentes?
*Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Católica Portuguesa