MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Investigadora

9/10/2024 08:00

Estes dias estirados têm me lembrado os tempos em que as férias de verão duravam até Outubro. Era tão bom ver o barco regressar ao Funchal ao final do dia e poder ficar a nadar neste imenso mar azul e aconchegante. Era tão bom prolongar os risos, os olhares e os sonhos destes meses de eternidade e de mil sóis.

A praia está larga, as marés gordas e a Calheta parece outro mundo: uma esquina de água cristalina sob o ilhéu encantado onde outrora o galo do Salvador engordava com as dádivas dos crentes. Ouvi dizer que, agora, por lá, crescem umas favas vendidas como dentinhos e que fazem as delícias dos clientes. Só acredita quem quer. E é tão bom poder acreditar nem que seja num conto de fadas.

O último Sábado foi híper-mega animado. Fui sorteada para um baptismo de voo num KC-390, mas quando recebi o SMS pensei que era uma daquelas fraudes e quase que não respondia. Ainda bem que o fiz porque afinal era um dia de festa. E das grandes. Confesso que aquela zona do aeroporto do Porto Santo sempre me fascinou. Cheguei a imaginar cenários de ataques e desenhei na minha mente vários tipos de aviões e armamento ali guardados. Não me considero bélica no sentido militar do termo, mas admito que aqueles hangares disfarçados por entre as dunas sempre me inquietaram. E eis que tive a oportunidade de visitar esse lugar de fascínio. Além dos baptismos de voo, havia outras demonstrações e até barracas de comes e bebes. Porém, tenho a certeza que os TOP GUNS que por ali circulavam fizeram grande sensação. Era uns atrás dos outros. Fardados, uns com barba, outros não. Mas, todos de óculos de sol. Conseguem imaginar, certo? Da minha parte, valeu mais uma experiência que acrescentei à minha lista de coisas a fazer antes de morrer. Ainda vai a meio!!!!

Acabei de ler um livro que me veio bater às mãos de forma inesperada. Gosto tanto quando isto me acontece. Ser surpreendida. Ser levada por uma rajada. Por narrativas que me tiram o folego e me deixam acordada noite adentro, sucumbindo à bulimia da leitura: o meu único vício.

Falta-nos um único ser, e tudo se despovoa. Assim se inicia A Breve Vida das Flores da autoria de Valérie Perrin cuja história se passa em torno do cemitério, mas que, em vez de se centrar na morte, como seria expectável, celebra a vida e a nossa capacidade de enquanto seres de passagem, podermos, todavia, fazer da recordação, mais que uma mensagem, a verdadeira eternidade. Tudo isto me faz também lembrar o livro de Rosa Montero, A rídicula ideia de nunca mais te ver, através do qual a autora tenta mitigar a perda do marido, chegando à conclusão de que a morte - esse destino destinado - é a única coisa que nos tira a palavra. Mais. Depois de instalada aquela ausência que nos devora, cabe a cada um criar um novo mundo, ou pelo menos, (re)criar um tempo em que alguém nos amou.

Só agora, diante desta página em branco me dei conta que estes últimos tempos têm sido repletos de perdas. Digo perdas pois acho que esta palavra é ainda mais forte que a morte. Porque permanece. Porque nos sentencia à dor. Porque faz verter lágrimas cujo propósito é regar a ausência. Orlando. Helena, Jorge. Falar de vocês seria redutor. Continuo a ouvir-vos e gostava que soubessem que por aqui está sempre bom tempo. Um dia, talvez seja capaz de escrever o quanto gosto de todos vocês.

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