Sabiam que tinham de aproveitar os dias grandes até ao fim. Depois disso, as tardes de brincadeira encurtavam-se e as noites chegavam, pesarosas, com as geadas da madrugada, os ventos endiabrados entre as árvores e a frio que entrava pelos ossos dos mais velhos gerando queixas, dores e desconforto. Pelo menos eram o que eles diziam. Ria-se a pensar no caminho que o frio fazia até aqueles momentos de cramadeira.
Os mais velhos diziam que eles iam ver quando crescessem. E outras frases engraçadas, em tons de profecia. “Atrás de tempo, tempo vem”. “Ainda vais dar valor”.
Mas o valor que eles davam, nessa altura, era àquela moeda que chegava para o gelado na venda e as tardes de verão intermináveis, onde era possível fazer casinhas entre os bambus e brincar tardes inteiras.
Com o outono e a mudança de hora instalados na rotina da aldeia, escasseavam as flores para enfeitar pinheirinhos em natais precoces só existentes no calendário pueril e inocente da infância. As casinhas de brincar erguidas entre os canaviais nas tardes de verão iam perdendo fulgor para as intempéries e a noite roubava horas ao divertimento. Até as lagartixas afoitas, que não tinham pudor em invadir o espaço alheio em dias de veraneio, o que gerava gritos e gargalhadas, se encolhiam, vencidas, à espera que os dias voltassem a crescer e o sol se apresentasse menos tímido.
O período entre o outono e o Natal era uma espécie de tempo de ninguém. Um parente pobre no calendário. E só o magusto aquecia as mãos e a alma, afastando a melancolia que se instalava como manhãs de nevoeiro, deixando o céu e a vida mais cinzenta. Era preciso esperar até as luzes da Festa iluminarem as ruas e os corações, como tardes de verão que, se não eram, pareciam eternas.