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Artigo de Opinião

Jornalista

29/08/2024 08:00

No meu sítio éramos muitos.

Na minha infância não faltavam colegas nas redondezas para brincar. Em quase todas as casas havia crianças. Na vizinhança era assim. Uns já adolescentes, outras, crianças de várias idades. Nessa altura havia malta jovem por todo o lado. Uma realidade que se foi perdendo com o tempo. Uns saíram para estudar, outros como não conseguiam estudar saiam para trabalhar. A imigração era o caminho. Não eram muitos os que resistiam ao mundo do trabalho. A necessidade obrigava. A falta de oportunidades na zona obrigava ao abandono autêntico de localidades como a minha em Santana. Nos meus tempos de adolescência nas férias do verão conseguíamos fazer muitas brincadeiras com a malta do sítio. Dava para fazer mais do que duas equipas de futebol. Durante o dia todos ajudavam em casa sobretudo na agricultura e ao fim do dia lá se arranjava um tempinho para umas “futeboladas”, ou outros jogos, alguns inventados na hora. No verão a meio da tarde havia sempre umas fugidas para uns mergulhos. Como o mar não ficava perto, a solução passava pelos poços de rega. Quando estavam cheios com água que posteriormente iria regar o feijão ou o milho funcionavam como autênticas piscinas. Era aí que a maior parte da malta aprendia a nadar. Nessa altura ninguém tinha fatos de banho. O improviso ditava a lei. Usávamos cuecas. Nesse tempo eram todas brancas mas com uso em poços cheios de lama é fácil de perceber que rapidamente ficavam castanhas. Cor que nunca mais perdiam. Até porque não voltavam a casa. Nem podiam. Eram escondidas dentro dos vimieiros para os dias seguintes.

Nesse tempo havia muita vida no meu nos sítios vizinhos. Infelizmente as dificuldades da terra impediram a fixação desta gente. Com o andar do tempo os que saíram já não voltaram e os poucos que ficaram têm sido insuficientes para não se assistir a um certo despovoamento. São muitas as casas e os terrenos abandonados. Casas muitas delas não resistiram ao andar dos tempos e foram se degradando ao ponto de se tornarem inabitáveis.

A verdade é que naquele tempo era uma infância carregada de felicidade. Era tudo muito genuíno e até as tarefas que tínhamos que efectuar no campo, como: mondar, cavar ou regar, eram na maior parte das vezes encaradas com boa disposição e até como brincadeiras.

Quando regresso ao sítio o que mais encontro é abandono.

Quando regresso ao sítio, algumas casas que outrora estavam cheias de vida, hoje estão degradadas e a falta de manutenção e o passar dos anos levaram à sua deterioração. As terras também estão abandonadas, e as poucas casas que ainda mostram alguns sinais de vida são habitadas por gente já com alguma idade.

A nostalgia de uma infância vibrante contrasta fortemente com a realidade de um lugar que, embora tenha sido cheio de felicidade, agora enfrenta o desafio do abandono.

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