Quando olho para tudo o que vivemos neste ano, sou grata, muito grata, pois tenho a minha família com saúde. Não os pude abraçar como queria, não pude conviver como desejava, mas temos saúde. Infelizmente nem todas as pessoas podem usufruir desta mesma felicidade. Muitas pessoas perderam os seus entes queridos para esta maldita pandemia, outros para doenças súbitas (que sempre existiram, mas agora teimam em ser noticiadas, não sei se por maior número ou maior impacto), acidentes, sei lá… independentemente da causa, o que fica é uma dor inquestionável que parece não ter fundo nem fundamento, que parece não querer sarar. Nos dias prévios ao Natal pensei muito na dor daqueles que sofriam, daqueles que não iriam abraçar os seus. Eu ia (e fui) abraçar os meus, mas tantos não o conseguiram fazer. Que dor maldita que todos vamos sentir, que, apesar de transversal à humanidade é única na forma de sentir e de viver. Mas os dias vão passando, a saudade aumenta, mas, um dia, essa dor vai dar lugar a boas memórias que cada um viveu e sentiu com os seus.
Mas o ano 2021 não foi apenas de sofrimento. Eu aprendi a ver o mundo com olhos de esperança, com os olhos do coração, com gratidão por tudo o que tenho e que consigo viver. Aprendi a viver mais com menos. Mais intensamente, mais abertamente, mais genuinamente, com menos tempo, menos espaço, menos oportunidades. A vida, neste ano difícil, ensinou-me que a entrega e a ajuda são muito mais valiosas do que qualquer bem material, que o toque é bem mais necessário do que as palavras, que o olhar vale mais do que mil sorrisos. Aprendi a ler sorrisos no olhar. E como se percebem os sorrisos escondidos no olhar por trás de uma máscara. E como se percebe gratidão por trás de uma máscara. E como se percebe o orgulho, a vergonha, a solidão e também a alegria. Tudo escondido num reflexo da pandemia, mas que não se deixa apagar, não desaparece, seja lá que tipo ou cor de máscara se use. Nada pode esconder um sentimento, uma emoção. E como aprendi a perceber ainda melhor as emoções! Genuinamente olhando nos olhos, prestando verdadeiramente atenção aos pequenos grandes detalhes, aprendi uma nova forma de vida: escondida mas tão genuína, porque os olhos não mentem!
Num mundo do avesso, controverso, encontrei a minha essência, encontrei-me nos desencontros, encontrei a mais bela forma de amor. Aprendi que, sem acreditar, nada conseguirei da vida nem daqueles que comigo lutam para perceberem a realidade que nos rodeia. Aprendi que há pessoas boas, muito boas mesmo. Genuinamente generosas. Pessoas que nos fazem sentir especiais apenas ao nos servirem um café, com a simplicidade de quem gosta do que faz, de quem gosta de agradar quem pelas suas vidas passa.
Neste ano que agora termina aprendi que a vida vale mesmo a pena, mesmo havendo contratempos, pois temos a oportunidade de nos reinventarmos, de sermos gratos e de partilharmos essa gratidão com quem connosco trilhar os caminhos de mais um ano que virá.