Vivemos um momento especialmente difícil em que se torna imperativo acreditar que nos momentos de crise surgem, verdadeiramente, momentos de oportunidade que nos impelem a contribuir para se alcançar um mundo mais justo, mais fraterno, mais humano em que o bem comum deve ser o desiderato de cada um de nós.
No início do decorrer do mês de fevereiro uma menina de 6 anos morreu ao lutar pela sua vida na cidade de Gaza..., pediu ajuda, pediu para a irem buscar..., a ajuda não chegou a tempo de a salvar.
Entretanto, o jovem palestiniano Hussam Al-Attar, que desde o ataque de Israel a Gaza vive num campo de tendas, eis que com duas ventoinhas criou um sistema capaz de gerar eletricidade. Tal descoberta permitiu que a tenda onde vive com a sua família passasse a estar iluminada. E este menino de 15 anos de idade referiu que um dia espera realizar o sonho de se tornar cientista e, assim, criar uma invenção que venha a beneficiar o mundo inteiro... Hussam que assim seja!
Efetivamente, no meio da turbulência e do sofrimento vão surgindo sinais de esperança que nos dão alento e direcionam o nosso olhar para o que é importante e que teimam em ensinar-nos que o mundo nasce da atenção que damos ao próximo, do desejo de nos abrirmos ao outro e não da vaidade, do poder.
Daí que se torne urgente a concretização de políticas que permitam quer a melhoria das condições de vida dos cidadãos, quer “o cuidado com a criação”, quer “a inclusão de quem não é visto ou é desprezado”.
Numa das últimas viagens que efetuámos a Lisboa, com os jovens do 10.º ano de catequese, eis que após algum período de espera para aterrar no aeroporto da Madeira, regressámos a Lisboa, por virtude das condições meteorológicas. Os nossos jovens ficaram assustadíssimos e com receio de não regressar em breve à sua linda Ilha, pois não estavam habituados a estas andanças de voos e aeroportos. Ora, logo que aterrámos em Lisboa fomos acautelar o regresso, tendo sido dito pelo apoio da TAP em terra que o mesmo apenas aconteceria daí a 3 dias. Em face de tal resposta, tão lacónica e sem qualquer atitude de empatia ou misericórdia para com aquele grupo de jovens, transformamo-nos em leoas e foi possível, então, garantir o regresso daquele grupo no dia seguinte, bem como os dos demais passageiros que por ali já se encontravam, num daqueles aviões de maior dimensão. Os jovens estavam com fome e efetuaram os seus pedidos de comida, após terem recebido um voucher para a alimentação. Eis que reparámos que uma jovem guardou a sua comida na bolsa. Não resisti e perguntei: “Então, querida, está com fome e guarda a sua comida na bolsa?” Respondeu: “Sabe catequista a minha mãe nunca comeu isto.”
Como o leitor deve imaginar tudo se providenciou e a nossa jovem comeu o que devia e trouxe para a sua mãe o que esta nunca havia comido. Esta menina está a estudar e será em breve uma jovem que entrará numa das Faculdades de Direito do nosso país, tendo ao seu lado uma mãe que, não obstante as dificuldades, tudo continua a fazer para que a sua menina continue a acreditar que as dificuldades são, efetivamente, grandes momentos de oportunidade.
Continuo a crer que se cada um de nós fizer o seu melhor, com respeito por todos e por cada um, o que não implica unanimismos, colocando o bem comum acima dos seus interesses..., então, estamos, efetivamente, a fazer caminho!
O Papa Francisco, mais uma vez, pede aos jovens, e também a cada um de nós, para que neste momento histórico, em que os desafios são enormes e os gemidos dolorosos, que procuremos e arrisquemos. Ousemos, assim, sair da escravidão que nos leva ao inconformismo, ao sofá, à maledicência, e abracemos o risco de pensar que a vida é um espetáculo que depende dos nossos simples gestos, das mãos que constroem, continuadamente, o bem comum.