O Clube de Ecologia Barbusano, da Escola Secundária Francisco Franco, promoveu uma palestra intitulada ‘A importância da Laurissilva e os desafios da sua gestão’, no âmbito da comemoração dos 25 anos da sua classificação como Património Mundial Natural pela UNESCO.
O palestrante foi o professor Miguel Sequeira, professor auxiliar com Agregação na Universidade da Madeira e diretor de Curso do Mestrado em Biologia Aplicada.
Este tem realizado investigação e produção de trabalhos ao nível da taxonomia vegetal e da fitossociologia, é membro do Conselho Científico do Livro Vermelho da Flora de Portugal e foi diretor do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza.
O supracitado investigador iniciou a palestra tratando o tema do Tempo Geológico “paleotempo” e a Biogeografia das ilhas. Explicou que existem diversos fatores que condicionam a biodiversidade das ilhas, nomeadamente, a sua distância ao continente, a sua idade e a sua dimensão.
Referiu que estudar a biodiversidade da Madeira é como “viajar no tempo”. Nas ilhas, a temperatura variou menos do que nos continentes, graças ao efeito amenizador do oceano, que funciona como “ar condicionado”.
Estas alterações climáticas, que se traduziram por um período de calor intenso e um de frio, as chamadas glaciações, que afetaram a Europa, não se fizeram sentir de uma forma acentuada nesta região.
Deste modo, a vegetação que cobria o continente europeu desapareceu, mas permaneceu na região da Madeira. Seguidamente, Miguel Sequeira comparou as ilhas do Porto Santo e da Madeira em termos de idade, sendo, esta última, mais recente.
Enfatizou que a biodiversidade de ambas, assim como, a das Ilhas Desertas, foi muito afetada pela introdução de mamíferos efetuada pelo Homem.
Atualmente, no Porto Santo, este é um problema que persiste, causado pelos coelhos, verificando-se estragos nos esforços de reflorestação da ilha e prejuízos na agricultura, não se compreendendo a reintrodução sistemática desses mamíferos nesse território.
Fez também questão de enfatizar que o Porto Santo é um exemplo de erosão e de desertificação no limite. Explicou que o período do cultivo da cana sacarina na Madeira causou uma destruição muito grande da sua vegetação indígena, na medida em que era usada muita lenha nos engenhos.
A dado momento, e por escassez desse combustível, aquela cultura deixou de ser viável e deu-se início à cultura da vinha. Neste sentido, referiu que aquilo que se verificou na Madeira foi um exemplo do “Capitaloceno”, caracterizado por uma exploração capitalista da paisagem.
A exploração do território madeirense levou a que, a determinada altura, já não existisse madeira suficiente, para os variados usos, pelo que foram criadas leis para regrar o corte de árvores.
Por essa razão, foram introduzidas plantas exóticas, como eucaliptos, pinheiros e acácias, entre outras, para fazer face à procura de madeira. Infelizmente, algumas destas plantas tornaram-se invasoras, destacando-se a acácia, o que está a pôr em causa a vegetação nativa e endémica da ilha.
Destacou que nos portos e nos aeroportos deve existir um controlo rigoroso para impedir a entrada de espécies exóticas, situação dramática das ilhas. Procedimento adotado em vários países do mundo, como a Austrália.
Referiu que a vegetação nativa tem vindo a recuperar ao longo do tempo e que “a Laurissilva atual é nova com plantas antigas”. O investigador explicou que a Madeira era procurada por botânicos estrangeiros fascinados pela sua vegetação natural, nomeadamente, ingleses, surgindo botânicos madeirenses, como Carlos Azevedo de Menezes, somente, no final do século XIX. Enfatizou que o pastoreio desregrado constitui também uma séria ameaça à biodiversidade regional, relembrando o esforço realizado no passado para a retirada do gado da serra.
Antes de finalizar, alertou para as graves consequências das alterações climáticas, destacando a urgência de medidas de mitigação e de adaptação, visto os eventos meteorológicos extremos serem cada vez mais frequentes e de consequências imprevisíveis.