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Casa de Saúde São João de Deus admite fechar unidade de internamento de doentes compulsivos até ao final do ano

Data de publicação
14 Novembro 2024
17:28

O Diretor Clínico da Casa de Saúde São João de Deus admitiu, hoje, o fim dos internamentos compulsivos até dezembro deste ano, argumentando que com o valor baixo da diária “não é possível tratar dignamente as pessoas”. As declarações do psiquiatra Luís Filipe Fernandes foram produzidas na audição parlamentar que pretende obter “esclarecimentos sobre programas de combate e dissuasão do consumo de drogas e substâncias psicoativas na Região Autónoma da Madeira”, realizada na Comissão Especializada de Saúde e Proteção Civil.

“Estamos a pagar 52 euros por diária. O Continente já paga 68. Vai passar, no próximo orçamento para 75 euros”, vincou, reforçando que a recomendação da entidade reguladora de preço mínimo é de 90 euros. “Não temos capacidade, com estes valores, de aceitar doentes compulsivos”, que são da competência do Ministério da Justiça, concluiu.

Numa altura em que o Parlamento madeirense se prepara para debater o orçamento do próximo ano, o médico e especialista em tratamento da toxicodependência lembrou aos deputados madeirenses a importância de “haver financiamento” para “os planos e para estratégias”, sob pena de fracassarem as medidas projetadas.

Este ano, e até setembro, a Casa de Saúde São João de Deus ajudou no tratamento de 126 homens e de 51 mulheres com problemas de toxicodependência. “A sensação que temos é que este número de novos casos tem estabilizado”, ainda assim o diretor clínico entende que falta à Região um estudo ou “um levantamento da saúde mental”, que “reflita o que se passa com esta problemática” e que possibilite uma maior articulação entre as várias instituições. “Pouco se tem feito na área da toxicodependência, porque temos várias capelinhas a tratar toxicodependentes. Nas várias capelinhas ninguém sabe o que é que cada uma faz, e depois não temos nenhuma entidade com capacidade de articular com todos os intervenientes e com capacidade de fazer projetos de colaboração, quer com o emprego, com a inclusão e a formação”, reforçou Luís Filipe Fernandes. “Um dos problemas maiores é não termos indicadores nenhuns para saúde”, que permitam aferir “se estamos a fazer bem ou a fazer mal”, salientou.

O Diretor Clínico da Casa de Saúde São João de Deus defendeu como mais-valias a criação de uma “comunidade terapêutica” e a criação de “albergues, que existem em toda a Europa, e onde as pessoas podem entrar, tomar banho e pernoitar”. Na opinião do especialista, estes são instrumentos que ajudam a complementar todo o trabalho que é feito na área da saúde, de motivação para o tratamento.

Luís Filipe Fernandes reivindicou, também, programas mais atuais e flexíveis. “Os programas têm de ser adaptados às pessoas, e não podemos estar a funcionar com um programa que deve ter 30 ou 40 anos, que dificulta a acessibilidade ao tratamento. Se eu tenho um problema imediato não faz sentido estar um mês, dois ou três à espera de uma consulta”, vincou.

O médico enalteceu o trabalho que tem sido feito pela Polícia Judiciária na Madeira, que no último ano, e com o novo laboratório, identificou “7 novas drogas sintéticas” e “nos ajudou, enquanto profissionais de saúde, a perceber melhor o fenómeno psicológico destas novas drogas”.

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