A UMAR Madeira realizou, esta terça-feira, uma conferência para assinalar o Dia Internacional das Pessoas Idosas, destacando a necessidade urgente de combater o idadismo, a discriminação e a violência que afetam a população mais velha. Joana Martins, coordenadora da UMAR Madeira, enfatizou a crescente vulnerabilidade das pessoas idosas, em particular das mulheres, num contexto de envelhecimento demográfico e precariedade económica.
“Respeitar as pessoas mais velhas com mais carinho, quer da sociedade quer da família, é uma necessidade do envelhecimento da população cada vez mais presente,” sublinhou Joana Martins, citando dados que revelam que mais de um milhão de portugueses vivem sozinhos, sendo mais de metade deles idosos.
No que concerne aos dados referentes à Madeira, a UMAR destacou que a proporção de pessoas idosas (população com 65 ou mais anos) “manteve a tendência crescente dos últimos anos, atingindo 20,9% da população residente”. “Em consequência, o índice de envelhecimento voltou a aumentar, fixando-se em 171 pessoas idosas por cada 100 jovens, no final de 2023”, sublinhou-se, na conferência de imprensa, na qual foi também reforçado o facto de que a Madeira “é das regiões mais pobres do país”. “Para a população reformada, a taxa de risco de pobreza na RAM situou-se em 19,5% em 2022”, acrescentou a UMAR.
A coordenadora chamou a atenção para o impacto do idadismo, um preconceito que afeta pessoas de todas as idades, mas que tem particular relevância no caso das mulheres idosas. “Especificamente, as mulheres mais velhas sofrem de múltiplas discriminações, com impactos na sua vida social, familiar e profissional,” afirmou, destacando que muitas destas mulheres enfrentam desigualdade salarial ao longo da vida, resultando em pensões mais baixas e maior dependência financeira.
Por conseguinte, “se as mulheres mais velhas estão mais dependentes, tornam-se mais vulneráveis a situações de violência doméstica”. Em 2023, cerca de 1671 pessoas idosas pediram ajuda devido a violência doméstica, das quais 76% eram mulheres, revelou Joana Martins, citando números da APAV, e lembrando também que a UMAR Madeira tem atuado na consciencialização e apoio a vítimas, com projetos de incentivo à autoestima e à saúde mental.
Estudo de caraterização dos jovens e famílias do Funchal apresentado em dezembro
A UMAR Madeira está a finalizar um estudo de caraterização dos jovens e das famílias do concelho do Funchal, em parceria com a Câmara Municipal. O estudo, que incluiu uma amostra de pessoas idosas entrevistadas de forma anónima, revelou a prevalência do idadismo, particularmente entre as mulheres, e a alta frequência de casos de violência doméstica.
Muitas destas situações de violência permanecem sem denúncia e só terminam por incapacidade do agressor, doença ou morte.
Os resultados completos serão apresentados em dezembro, contudo, Joana Martins adiantou que é já possível concluir que a violência sobre pessoas idosas na capital madeirense verifica-se não só por parte dos cônjuges, mas também exercida pelos familiares. Para além da violência física e/ou psicológica, é verificada violência económica sobre os idosos.
A preservação das memórias de mulheres mais velhas foi outro ponto destacado. “A recolha das suas histórias de vida é fundamental para combater a invisibilidade e transmitir saberes entre gerações,” concluiu a coordenadora, referindo que a recolha está a ser realizada nos concelhos do Funchal e Santa Cruz, com o objetivo de reunir memórias que serão lançadas em livros durante o próximo ano.