A historiadora, investigadora e professora universitária Raquel Varela lança, no próximo dia 13 de novembro, em Lisboa, um novo livro sobre a vida do padre José Martins Júnior.
Intitulado de ‘O Canto do Melro’, a autora descreve o livro como um retrato de uma vida surpreendente, “radicalmente humanista e revolucionária”, que reflete o percurso subversivo do padre Martins, hoje a poucos dias de completar 86 anos.
A sessão de lançamento desta “aventura” que começou a ser trabalhada há cerca de uma década terá lugar no Âmbito Cultural do El Corte Inglés de Lisboa, às 18h30, com a presença de figuras como Sérgio Godinho, Miguel Real, Fernando Dacosta e António Marujo, a par do protagonista da obra.
No dia 16 de novembro, data em que é assinalado o aniversário do padre Martins Júnior, o livro será lançado na Madeira, no Ribeira Seca, com uma festa popular organizada pela comunidade local, onde o pároco é eternamente acarinhado. O evento, aberto ao público, decorre a partir das 14h00 no Centro Cívico e inclui momentos de poesia, atuação da tuna fundada pelo padre, dança, poncha e gastronomia tradicional.
O ‘Canto do Melro’ estará disponível em todas as livrarias a partir de 21 de novembro e tem um outro lançamento agendado para o Porto, no dia 7 de dezembro, com duas sessões – às 15h00 na Unicepe e às 18h00 no El Corte Inglés Gaia.
A capa do romance foi ilustrada por Robson Vilalba, sendo a obra editada pela Bertrand Editora.
Sinopse:
“Raquel Varela dá-nos a conhecer, na forma de romance, a vida e a obra de uma figura ímpar, o Padre José Martins Júnior, que, da Ribeira Seca na Madeira, atravessou a história global, do fim do feudalismo em pleno século xx às lutas anticoloniais, da teologia da libertação à resistência antifascista. Um lugar de confluência entre o império britânico e o português, onde não só a geografia, mas os tempos históricos discordantes, se encontraram, ao som da sanfona tocada por um padre que elevou o vocábulo «povo» ao lugar da Polis, da democracia, da liberdade.
Apoiada numa impressionante recolha - em arquivos, jornais, testemunhos e observação - realizada ao longo de uma década, a autora ficciona esta história, levando-nos ao quotidiano de José Martins Júnior, um humanista radical de coragem invulgar, em coerência com o mais puro ideário cristão.
Em plena Revolução dos Cravos, o Padre Martins antecipou a abolição do regime da colonia, apoiou a ocupação de terras pelos caseiros camponeses e recriou a democracia ateniense, 2500 anos depois, tirando Cristo da Cruz, elevando toda a população à condição de cidadãos. Quando no continente se lambiam as feridas da derrota da Revolução, na Ribeira Seca a revolução continuava.
A historiadora recupera, em ficção biográfica, temas como o pensamento livre, o lugar dos partidos - e da Igreja -, o espaço e a qualidade dos afetos, a importância das revoluções socialistas, o combate à tirania do mercado e ao despotismo do Estado, incluindo quando este se apresenta como social-liberalismo, e a centralidade do trabalho para a felicidade e a democracia social. A utopia não como um não lugar, inatingível, mas como sonho concreto, encarnado pelo Padre Martins.
Nesta história os tempos confundem-se, não acompanham nem o Sol nem a Lua, nem os meses do calendário. Na Ribeira Seca, em dezanove meses avançaram-se quinhentos anos; os pobres decidiram, os analfabetos falaram, os surdos tocaram e os ricos esconderam-se; os professores ensinaram, os médicos curaram e um padre foi cristão como Cristo, que mandou que nos amássemos uns aos outros.”