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Ucrânia: Kiev recusa baixar idade de recrutamento para 18 anos por razões demograficas

Data de publicação
20 Outubro 2024
16:59

A ideia de a Ucrânia alargar a idade de mobilização para as Forças Armadas a homens entre os 18 e os 25 anos não encontra apoio suficiente no país, pelo possível impacto na já difícil situação demográfica ucraniana.

Assim, apesar da necessidade do país de recrutar mais militares, a ideia poderá não avançar por não encontrar apoio suficiente no país invadido pela Rússia, segundo fontes políticas citadas hoje pela agência de notícias espanhola EFE.

Os parceiros estrangeiros da Ucrânia até gostariam que o país baixasse a idade de recrutamento dos atuais 25 para os 18 anos, revelou o Presidente, Volodymyr Zelensky, numa entrevista recente.

No entanto, sublinhou que, atualmente, não existem quaisquer planos nesse sentido. “Não vemos porque é que essas mudanças devem ser introduzidas. Penso que seria perigoso”, afirmou Zelensky na última sexta-feira.

De acordo com Fedir Venislavskí, membro da Comissão Parlamentar de Defesa, os parceiros estrangeiros consideram que os jovens entre os 18 e os 25 anos são os combatentes mais eficazes, “dadas as suas qualidades físicas e psicológicas”.

Roman Kostenko, secretário da mesma comissão, referiu também, numa entrevista recente, que alguns dos seus colegas estrangeiros consideram contraditório o facto de a Ucrânia pedir ajuda urgente e, no entanto, não chamar tantos dos seus cidadãos às armas.

Os homens mais jovens poderiam ajudar a construir um exército ucraniano melhor se recebessem experiência mais cedo, diz Igor Obolensky, comandante da brigada Jartia.

A idade de alistamento na Ucrânia foi reduzida de 27 para 25 anos, em abril, quando Zelensky assinou a lei, após uma longa deliberação.

Em outubro, o parlamento revogou várias exceções que permitiam a mobilização de homens com menos de 25 anos.

Mas a ideia de mobilizar homens mais novos causou preocupação em muitos, devido à complicada situação demográfica que o país atravessa.

A população da Ucrânia estava a diminuir rapidamente, mesmo antes da invasão russa, e era de 41 milhões em 2022, contra 51,6 milhões em 1991.

Desde então, milhões de ucranianos fugiram da guerra e o número de nascimentos no país diminuiu um terço.

Devido ao baixo número de nascimentos na década de 1990, o número de jovens entre os 18 e os 25 anos é também muito inferior ao de outros grupos etários.

“A maioria destas pessoas não tem família nem filhos. Além disso, estão menos preparados moral e fisicamente para o combate do que os homens mais maduros. Se morrerem ou ficarem gravemente feridos, as nossas perspetivas demográficas vão piorar ainda mais”, afirmou à EFE Oleksandr Kovalenko, analista militar do grupo Information Resistance.

Trata-se de um risco muito grande que não pode ser ignorado, mesmo nesta situação complicada, como alertou recentemente o deputado ucraniano Sergei Rakhmanin.

Uma vez que o futuro do país pode depender destas pessoas, elas devem ser protegidas tanto quanto possível, defendeu também o antigo comandante-chefe das Forças Armadas ucranianas, Valeri Zaluzhni.

A mobilização não está a correr bem, disse Kovalenko à EFE: 20.000 recrutas estão atualmente em formação inicial, contra 35.000 há alguns meses, disse no sábado Vasil Rumak, do Estado-Maior da Ucrânia, responsável pela preparação dos novos militares.

Qualquer que seja a idade mínima para o recrutamento, os homens com mais de 40 anos continuarão a suportar o peso da guerra e são necessárias outras medidas, dizem os analistas.

Muitos ucranianos estão dispostos a alistar-se no exército, mas querem saber se serão devidamente treinados e equipados, adiantou à EFE o sociólogo Anton Grushetski. “Temos gente suficiente, mas eles esperam mais apoio dos nossos parceiros”, sublinhou o diretor do Instituto Internacional de Sociologia em Kiev, capital da Ucrãnia.

Na sexta-feira, o exército ucraniano anunciou o prolongamento da formação básica dos novos recrutas de um mês para um mês e meio.

A Ucrânia precisa de confiar mais em tecnologias e armas que a ajudem a atacar o inimigo à distância, para poupar mais os seus próprios soldados, sublinha Kovalenko. Na sua opinião, o aumento do estímulo financeiro também poderia ajudar.

Enquanto os soldados ucranianos ganham entre 500 euros e menos de 3.000 euros por mês, os novos recrutas na Rússia recebem até 28.000 euros só por assinarem um contrato.

“Os russos não acreditam nos mitos sobre a luta contra os nazis na Ucrânia e só lutam por dinheiro. Se os salários fossem multiplicados por várias vezes no exército ucraniano, a mobilização também poderia aumentar drasticamente”, sugeriu Kovalenko.

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