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Artigo de Opinião

Comunicação - Assuntos da UE

25/12/2024 08:00

Amanhã, dia 26, é o meu aniversário. Além da azáfama de preparar o Natal em família, comprar e embrulhar presentes, escondê-los da prima pequena, as inúmeras idas ao supermercado para comprar o necessário para a ceia, ainda acresce a responsabilidade de organizar um jantar de aniversário no dia seguinte ao dia de Natal. Este ano, dei por mim a fazer matemáticas mentais de quem estaria cá na ilha dos meus amigos e familiares. “Bem, o Ludgero está na Bélgica, a Tânia está em Jersey, a Cláudia no Reino Unido, a Alexandra no Porto Santo, o João em Lisboa, a Carolina deixa a Madeira nesse dia”, dei-me conta.

A realidade é que naquele momento a ficha caiu de que muitos dos meus amigos já não vivem na Madeira ou em Portugal sequer e, infelizmente, vir cá, mesmo na Festa, já começa a ficar difícil. O Natal é a época do ano em que os reencontros familiares, as tradições e o calor do lar ganham um significado especial. Para muitos, e eu incluída, é um momento muito aguardado, quase com uma contagem decrescente mental até poder aterrar e ouvir dizer “Bem-vindos ao Aeroporto Internacional da Madeira – Cristiano Ronaldo”. Até palmas dou.

Contudo, nos tempos de hoje, onde por necessidade, trabalho, estudo ou outras oportunidades, estar longe de casa no Natal é experienciado por muitos. Houve apenas um ano em que não pude vir à Madeira passar a Festa e foi porque os voos estavam estupidamente caros e tinha férias muito limitadas. Recordo-me que o primeiro sentimento que senti foi nostalgia. Lembrei-me dos sabores e dos cheiros das refeições cozinhadas pela minha mãe, os sons das músicas das Missas do Parto e até das pequenas tradições, que pareciam insignificantes, e que ganham um valor imensurável quando se está longe. É uma saudade que transcende objetos ou espaços: é uma saudade de pessoas, de momentos e de um sentido de pertença.

Mas o Natal fora da Madeira também é um convite à adaptação. Celebrar longe de casa pode, à primeira vista, parecer um desafio. Contudo, é uma oportunidade de criar algo novo e novos rituais. Quem vive lá fora muitas vezes reinventa esta época, combinando as tradições da sua terra com as do país que lhe acolhe. Pode ser um jantar com novos amigos ou até mesmo um momento de introspeção e gratidão por tudo o que foi conquistado ao longo do ano. Naquele ano em que passei no frio da Eslovénia, foi isso que fiz. Erámos apenas quatro amigas à mesa, mas tínhamos carne vinha d’alhos, por exemplo. Matou um pouco da nostalgia.

Além disso, bem-haja à tecnologia, que desempenha um papel importante. Na noite de 24, a minha família passa o jantar com o telemóvel num lugar estratégico, para que possamos jantar online com as nossas primas de Londres e os nossos tios de Jersey. Uma conversa em tempo real com a família, embora virtual, traz algum conforto. Ainda assim, não se pode negar que a presença física faz falta. Não nos podemos abraçar através de um ecrã.

Como tudo na vida, é preciso tirar lições positivas. Aquela experiência de passar a Festa fora da Madeira ensinou-me que o “lar” não é apenas um lugar, mas sim as ligações que cultivamos com as pessoas e connosco mesmos. A distância pode, também, reforçar laços. Passamos a valorizar mais os pequenos gestos e as relações que muitas vezes damos como garantidas. O Natal longe de casa é um lembrete de que o espírito natalício — o amor e a partilha — pode ser recriado onde quer que estejamos. E onde quer que o leitor esteja, um feliz Natal!

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