Portugal continua sem reconhecer a reeleição de Nicolás Maduro nas presidenciais da Venezuela de julho passado, disse hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros, insistindo no diálogo para alcançar uma transição democrática, quando faltam quatro dias para a posse.
Em declarações aos jornalistas em Lisboa, Paulo Rangel afirmou hoje que “Portugal tem apelado no quadro da União Europeia, mas também diplomaticamente, de forma muito sistemática, a que haja um processo de diálogo, dado que não reconhece os resultados eleitorais” declarados pelas autoridades venezuelanas, que atribuíram a vitória a Nicolás Maduro e contestados pela oposição, que reclama a vitória do candidato Edmundo González Urrutia.
O Governo português afirma que, perante a situação ‘de facto’ existente na Venezuela, é necessário um diálogo que “permita encontrar uma solução política para uma transição para a democracia e para o cumprimento daquela que foi a vontade do povo venezuelano”.
Questionado se Portugal reconhece a vitória reivindicada pela oposição venezuelana e, consequentemente, Edmundo González como o Presidente eleito – à semelhança do que fez o Parlamento Europeu -, Paulo Rangel defendeu a necessidade de “alguma contenção” e recordou a “amplíssima comunidade portuguesa e de lusodescendentes”, na ordem de meio milhão de pessoas, que vive na Venezuela.
“O Parlamento Europeu não é um Estado. São coisas diferentes. Eu compreendo muito bem a posição do Parlamento Europeu e também compreendo a posição dos Estados, muitos Estados europeus. Portanto, vamos aguardar agora a situação”, comentou o também ministro de Estado.
As autoridades venezuelanas ameaçaram hoje deter Edmundo González Urrutia se “puser os pés” na Venezuela. Exilado em Espanha desde setembro, o candidato da oposição prometeu regressar ao país sul-americano para tomar posse na próxima sexta-feira, para quando está marcada a posse de Nicolás Maduro, na sequência da sua eleição para um terceiro mandato (2025-2031) à frente do país, validada pelo Supremo Tribunal, apesar das várias críticas.
Atualmente em digressão internacional, que já passou pela Argentina e Uruguai, González Urrutia teve hoje um encontro “longo e frutífero” com o Presidente cessante norte-americano, Joe Biden.
Maduro foi declarado vencedor com 52% dos votos pelo Conselho Nacional Eleitoral, que justificou a não publicação dos relatórios das assembleias de voto devido a alegada pirataria informática. Publicando as atas, a oposição garantiu que Urrutia obteve quase 70% dos votos.
A repressão das manifestações após o anúncio da vitória de Maduro causou 28 mortos, cerca de 200 feridos e 2.400 detidos. Pelo menos três dos detidos morreram na prisão.