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Artigo de Opinião

4/01/2025 06:00

A política e a gestão da coisa pública não podem ser um mero arranjo circunstancial de interesses ou de soluções tecnocráticas, sem que lhes subjaza um qualquer sentido ideológico de fundo que sirva de referencial a toda a acção política. Há quem advogue a morte das ideologias, mas a pretensa desideologização esconde em si própria uma forte e perversa intenção ideológica. Como arte de gestão dos destinos de um país, a política tem de envolver um qualquer desiderato finalístico, um ideal de transformação da sociedade, em suma, um sonho de realização colectiva que inspire e mobilize os cidadãos para a sua concretização e permita justificar e consolidar as opções tomadas circunstancialmente. No espectro ideológico clássico, o chamado centrão político, que engloba as sociais democracias e os socialismos democráticos como uma espécie de anverso e reverso da mesma moeda, é aquele que melhor parece contribuir para a realização de um sonho colectivo equilibrado e solidário e o que maioritariamente tem vindo a ser partidariamente sufragado pelas populações.

São as posturas ideológicas que assumem um carácter reformista na transformação da sociedade capitalista e procuram promover um estado de bem-estar social, através de uma intervenção activa na economia para defesa da justiça social, num clima de pluralismo e liberdade. Não basta apenas rejeitar as vias oferecidas pelos neoliberalismos e pelas autocracias estatizantes, por incapazes de resolverem as contradições sociais nas sociedades que constroem. Há que introduzir profundas reformas estruturais que dinamizem a actividade económica e social, não apenas com uma simples democracia formal, mas sim, uma autêntica democracia política, económica e social. A democracia económica deve postular o predomínio do interesse público sobre os interesses privados e a intervenção do Estado na vida económica. A democracia social impõe que sejam assegurados efectivamente os direitos fundamentais de todos à saúde, à habitação, ao bem-estar e à segurança social e ainda à redistribuição dos rendimentos, pela utilização de uma fiscalidade justa e progressiva.

Todo este desiderato ideológico e de intervenção do Estado tem vindo a ser pervertido e corroído praticamente nos seus alicerces em função das políticas de interesses, dos jogos económicos, dos umbiguismos e amiguismos trapaceiros, do tráfico de influências, da corrupção, da politiquice sem valores ou propósitos éticos e dos líderes sem visão programática que encaram a política como um mero ganho de poder. Tudo o que tem gerado uma degradação do estado social, bem como um alheamento e desconfiança das populações nas instituições e na política em geral, por traição da fé nos princípios ideológicos em que confiaram. Tal favorece também o surgimento de populismos traiçoeiros e oportunistas, de posições extremistas que cavalgam a desilusão e de soluções que se pretendem fora dos quadros ideológicos conhecidos. Inclusive surgem soluções partidárias que se arvoram sem ideologia, o que aponta para compromissos circunstanciais sem a consistência de um ideal colectivo e outras que se apresentam como movimentos de causas, sem se perceber adequadamente qual o sonho que preside à sua acção, o que os torna fluidos e errantes na lógica da gestão geral da coisa pública. A solução e o futuro terão de passar necessariamente pela retoma e densificação dos princípios ideológicos do centro tradicional, expurgados das ervas daninhas e dos interesses mesquinhos que têm corrompido a sua concretização e a acção do Estado. Só assim se poderá reganhar a confiança e a mobilização da maioria da população para a construção de sociedades melhores, em perfeita liberdade e harmonia.

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