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Artigo de Opinião

Professora Universitária

6/01/2025 07:45

Um recente estudo da Fundação Belmiro de Azevedo, dedicado à antevisão de professores necessários e disponíveis, concluiu que se hoje a falta de professores com habilitação profissional começa a ser preocupante, em 2031, a situação ganhará escala e será um problema estrutural. Em 2021, faltavam 3.000 docentes, em 2031, “assistiremos a 8.700 professores por colocar em vagas permanentes e à falta de 15.700 professores para substituir colegas ausentes”, segundo a investigação realizada. Nada de novo para os sindicatos, que têm vindo constantemente a alertar para esta conjuntura presente e futura, tanto a nível nacional quanto regional. Agravada, aliás, na RAM pela saída de muitos docentes continentais e pelo elevado número de reformas.

O que explica termos hoje uma urgência de formação de docentes?

O mundo da educação está a evoluir rapidamente e, nos últimos anos, os professores foram chamados a enfrentar importantes inovações e desafios, que também afetaram as competências exigidas, o bem-estar do pessoal docente e a atratividade geral da profissão. Se tiveram de enfrentar mudanças repentinas, confinamentos, compreender novas necessidades de ensino, adotar diferentes métodos de comunicação, assumir diversas responsabilidades e se sempre se mantiveram na linha da frente para garantir a aprendizagem, aos docentes, infelizmente, pouco lhes foi e é reconhecido. Durante as últimas décadas, perderam estatuto social, a par do poder de compra, ganharam em burocracia, exigências e sofrem de um paradoxo quase doentio por parte da sociedade: ao mesmo tempo que são desvalorizados na sua atuação, não raro são responsabilizados como primeiros réus dos males da educação, do insucesso dos jovens e da crise da instrução.

Um estudo sobre saúde mental divulgado pelo jornal Público (9-12-2024) concluiu que metade dos professores se sente triste e com mal-estar psicológico. O Governo avança com a ideia de mais conteúdos sobre literacia emocional, diversidade e inclusão na formação inicial dos professores, colocando novamente o ónus da culpa no docente, que, pelos vistos, tem dificuldades em lidar com as emoções, em vez de considerar a conjuntura na educação como um todo e a necessidade premente de valorização do professor, em termos profissionais e sociais.

Segundo a OCDE, os professores portugueses perdem em média um quarto do tempo a manter a ordem na sala e a realizar tarefas administrativas. É um dos valores mais altos da OCDE. O TALIS conclui que os professores portugueses são dos que dedicam mais horas à profissão e só são ultrapassados por três países asiáticos. Parte desse tempo, e aqui também ficamos nos primeiros lugares, é dedicado a tarefas administrativas e a preencher papéis (3,8 horas por semana).

Os decisores políticos nacionais e regionais, para poderem enfrentar a crise de falta de docentes, associada há anos a um declínio da profissão, têm de melhorar a sua condição, as perspetivas de carreira e motivação e também apoiar a fase de recrutamento e de acesso à via ensino, reforçando as áreas científicas na sua formação. O saber ensinar é importante, mas tem de vir associado a um firme e sólido domínio do conhecimento.

Na RAM, há que ter consciência da necessidade de começar já a formação de docentes em áreas deficitárias, considerando que um docente demora cinco anos para obter habilitação profissional, e trabalhar em conjunto com a Universidade. Mas, temos de saber atrair os melhores, os que, como escrevia Einstein, compreendam que ser professor é “uma arte suprema, capaz de despertar a alegria da criatividade e do conhecimento.” Para isso, há que reforçar as competências e a motivação nas profissões da educação, reduzir tempos administrativos e dotar a escola de outros profissionais fundamentais, como psicólogos, assistentes sociais, informáticos, mas também pessoal de apoio técnico.

Acima de tudo, olhar a profissão como um modelo de vida em que conhecimento não é apenas um objetivo a atingir, mas um caminho a percorrer com humildade e dedicação. E recuperar o vínculo especial entre professores e alunos, que é uma das ferramentas mais poderosas para a mudança, sendo que a “liderança docente” é um conceito-chave na educação contemporânea, reconhecendo o poder dos professores não só na sala de aula, mas também como vozes influentes na política educativa e na mudança social.

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