Apesar deste desejo de permanecer neutral, na conjuntura internacional da época, não era de descartar a hipótese de um ataque/invasão ao território nacional, e as ilhas atlânticas, pela sua localização geoestratégica, eram particularmente apetecíveis. A Madeira, apesar de não possuir recursos naturais extraordinários, seria um local ideal para uma base naval e para operações com hidroaviões.
Perante estas ameaças, foi desenvolvido pelo coronel Luiz Augusto de Sousa Rodrigues (1883 - 1972) um plano de defesa do Arquipélago da Madeira, cuja estratégia defensiva assentava sobretudo na defesa costeira, com a construção de pequenas fortificações ao longo da orla marítima, muitas vezes tirando partido de cavernas naturais existentes nos locais a defender. O objetivo era tentar impedir o assalto de meios anfíbios do inimigo, tentando desse modo evitar que se estabelecessem testas de ponte nas praias.
As lições da Primeira Grande Guerra, com os bombardeamentos dos submarinos alemães, sobre o Funchal, estavam bem presentes na memória dos madeirenses e era necessário evitar a sua repetição. O reforço da capacidade defensiva contra ameaças marítimas, tornou-se crucial e nos primeiros meses de 1940, iniciam-se os estudos para a construção de uma bateria de defesa de costa.
O local selecionado foi o Pico da Cruz em São Martinho, era uma posição com enorme importância tática devido à cota em que foi edificada e cujas peças de artilharia podiam bater com fogo, uma grande extensão de mar.
A sua construção iniciou-se a 5 de julho de 1940 e ficou concluída no dia 21 de novembro de 1940, a unidade foi designada como Bateria Independente de Defesa de Costa n.º 2 e era constituída por três peças Krupp 15/40 CTR m/902 com um alcance máximo de 14 km.
Na Segunda Guerra, o poder aéreo assume-se como determinante para a vitória no campo de batalha, nesse sentido era fundamental que o aparelho defensivo madeirense, contemplasse medidas para lidar com estas ameaças. No que diz respeito à defesa antiaérea da Ilha, as zonas escolhidas para instalar peças de artilharia contra aeronaves, foram o Pico do Buxo em São Martinho e a zona do Palheiro Ferreiro.
Outras peças antiaéreas, de menor calibre, foram colocadas em locais considerados de elevado interesse estratégico, distribuídas pela cidade do Funchal. Com o desenvolvimento do conflito, o foco das potências beligerantes alterou-se, para operações militares noutros teatros, e a ameaça que pendia sobre os arquipélagos Atlânticos desvaneceu-se, não se verificando nenhum ataque à Madeira.
Relativamente à preservação deste património histórico-militar do período da Segunda Guerra Mundial, julgo ser de louvar o facto da Zona Militar da Madeira (ZMM) ter investido na conservação destas instalações, mais concretamente na Bataria de Costa e nas peças antiaéreas do Pico de São Martinho que, felizmente, não sofreram o destino de outras unidades idênticas no continente, que se após a sua desativação, ficaram completamente abandonadas. A preservação deste importante património histórico/militar é essencial para a perpetuação e manutenção da nossa memória coletiva.