Através do desporto criamos esperança onde muitas vezes existe descrença, consegue quebrar barreiras raciais mais eficazmente que a grande maioria dos governos". Mais do que nunca, hoje, a frase de Nelson Mandela adquiriu uma força capaz de mudar, realmente, o mundo. Infelizmente pelos piores motivos.
O mundo quase parou quando, a 24 de fevereiro de 2022, a Rússia lançou uma invasão militar em larga escala contra a Ucrânia, um de seus países vizinhos a sudoeste.
Em 21 de fevereiro, Putin havia já reconhecido a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk, duas regiões autoproclamadas como Estados que controladas por separatistas pró-Rússia em Donbass. No dia seguinte, o Conselho da Federação da Rússia autorizou, por unanimidade, o uso da força militar e as tropas russas entraram em ambos os territórios. Em 24 de fevereiro, Putin anunciou uma "operação militar especial", supostamente para "desmilitarizar" e "desnazificar" a Ucrânia. Minutos depois, mísseis atingiram locais em toda o território ucraniano, incluindo Kiev, a capital. A Guarda de Fronteira Ucraniana relatou ataques a postos fronteiriços com a Rússia e a Bielorrússia. Pouco depois, as forças terrestres russas entraram na Ucrânia.
Cinquenta dias passados e a já denominada Invasão Russa da Ucrânia parece não ter fim à vista.
A par dos combates, a par das notícias, condenações e manifestações cotra e algumas a favor da invasão, o mundo foi surpreendido pela mais violenta condenação jamais feita contra um país, em forma de sanções de todos os tipos desde económicas às culturais e desportivas. E aqui começa a razão de ser desta nossa crónica. Desporto é união, é confraternização, fair play, amizade.
Os atletas russos foram impedidos de competir. Clubes inteiros suspensos das competições internacionais. A selecção russa banida dos mundiais de futebol. O campeonato do mundo de futebol retirado do país. E aqui fica a pergunta: o que têm os desportistas, os atletas que durante meses, anos se prepararam para a verdadeira festa que é o desporto, que se prepararam para, nos campos, nas pistas, nos ginásios, competir com "adversários", entre aspas, de todo o mundo? Até que ponto é indigno desiludir, matar os sonhos de jovens, homens e mulheres que nada têm a ver com uma guerra com a qual, a maioria deles, certamente nem concorda? Até que ponto os governos têm o direito de transformar o desporto em arma de desunião contrariando as palavras de Nelson Mandela, um dos maiores líderes do nosso tempo, quando afirmou "Através do desporto criamos esperança"?