Ao ver o cavalgar do número de infeções diárias com direta ligação às festividades natalícias, temos que refletir sobre o difícil malabarismo entre os valores da liberdade e da segurança. Cada território utiliza os instrumentos que tem ao dispor para combater a pandemia. Naturalmente que as ditaduras dispõem de um arsenal de contenção da atividade da população que felizmente as nossas democracias não têm. Melhor que a China, só a Coreia do Norte que nem casos (vivos…) do vírus tem. São as variantes da "mão no focinho" (sem avisos!) nas ditaduras musculadas.
Numa democracia, o ‘arsenal’ tem que necessariamente incluir a responsabilização do cidadão: o próprio cidadão como agente ativo no combate à propagação do vírus. Na verdade, a responsabilidade individual é aquilo que facilmente se esquece, mas que está na parte de trás da medalha da liberdade. A cidadania ativa que está nos antípodas da aparente (auto)infantilização do cidadão que por vezes assistimos.
Vejamos um caso prático e bem recente: a indignação gerada pelo caso da matança do porco na Ribeira Brava. A população naturalmente procura culpados para o surto de casos, mas ao mesmo tempo que aponta o dedo a quem ativamente ignorou as recomendações oficiais, alega-se um "descontrolo das autoridades de saúde", conforme a reportagem jornalística. Alguém obrigou os outros 30 infetados a conviver em torno da matança do porco? Penso que não. Mas a culpa é das "autoridades de saúde" que não controlaram essa tradição?! Mas então querem um drone da Direção Regional de Saúde em cada lar para supervisionar quem entra e sai, quem participa no jantar ou quantos convivas brindam ao Ano Novo no terraço? Mais do que "querer", será que precisamos para cumprir? Perguntas preocupantes a ter no meio de uma pandemia.
Vamos ter um início de ano mais restritivo, independentemente do teor das medidas que à hora de escrever este artigo ainda não se sabem. Mas ao mesmo tempo, o arranque da vacinação é a luz ao fundo deste difícil túnel, a luz que tanto precisamos vislumbrar. Tenho a certeza que essa consciencialização e a melhoria do comportamento individual nos ajudará a ultrapassar as agruras atuais.
Desejo a todos um bom ano novo - em segurança, em saúde e com liberdade. Sim, vamos conseguir conciliar tudo!
Sugestão da Semana: Depois da tempestade vem sempre a bonança. Também depois da pandemia voltarão os dias para descobrir o mundo. Para ajudar a sonhar sobre novos destinos, deixo aqui uma sugestão na forma de livro, nomeadamente da autoria de Tim Marshall - "Prisioneiros da Geografia: dez mapas que lhe revelam tudo o que precisa saber sobre política internacional" (2015). O autor percorre o planeta fazendo uso de mapas e ensaios para demonstrar como a própria geografia é um fator tão determinante no desenrolar da história do mundo.