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Artigo de Opinião

DO FIM AO INFINITO

16/02/2024 08:00

Quando a beleza caminha à minha frente, a imortalidade morre um pouco mais dentro de mim... Há várias semanas que ando com esta frase na cabeça... Quando a beleza caminha à minha frente, a imortalidade morre um pouco mais dentro de mim... A frase aconteceu dentro de um sonho e, desde então, permanece em mim como o refrão para todos os pensamentos, ações e omissões que me ocorrem na realidade – quando a beleza caminha à minha frente, a imortalidade morre um pouco mais dentro de mim...

E daqui não saio.

Já tentei vários caminhos, mas volto sempre ao princípio.

Sou incapaz de prosseguir.

Se estivéssemos noutra época, eu diria que o caixote do lixo e o chão do quarto estariam cheios de folhas de papel amarrotadas e haveria copos de vinho entornados e garrafas vazias por todo o lado e o meu cabelo estaria completamente desgrenhado de tanto o coçar e os meus olhos esbugalhados de tanto pensar e a minha voz ameaçadora de nada dizer e ao lado da máquina de escrever haveria também uma resma de folhas A4 com uma única frase repetida de todas as formas possíveis:

Quando a beleza caminha à minha frente, a imortalidade morre um pouco mais dentro de mim...

Mas, na verdade, o mais que faço é utilizar a tecla ‘Delete’.

Há semanas que ando nisto.

E, de repente, lembrei-me do ChatGPT e da inteligência artificial.

Pensei assim:

Vou pô-los a escrever uma crónica por mim.

Um pensamento do Diabo, sem dúvida!

Como sou semi-infoexcluído, pedi ajuda à Pat e ela introduziu as seguintes indicações: Escreve uma crónica com 3000 carateres a descrever o que um escritor e jornalista vê ao passear pelas ruas da cidade do Funchal. Descreve as pessoas com quem se vai cruzando e as histórias que imagina estarem por detrás de cada pessoa. Esta crónica faz parte de uma coluna semanal que o escritor escreve num jornal local, intitulada “Do Fim ao Infinito”.

A classificação “escritor” é manifestamente exagerada, mas pronto...

Em apenas três segundos, surgiu um texto que faz referência à Avenida Arriaga, à Rua Dr. Fernão de Ornelas, à Praça do Município, à Zona Velha, à Avenida do Mar e em cada lugar eu encontro uma pessoa especial, como a Dona Rosa, uma “idosa de semblante sereno e olhar penetrante”; o Miguel, um “jovem artista de rua que encanta os transeuntes com sua música melancólica”; o Tiago, um “jovem empreendedor com um brilho nos olhos que denota uma determinação incansável”; o Manuel, um “pescador idoso que retorna do mar com seu barco repleto de histórias de bravura e sobrevivência”; a Ana, uma “jovem bailarina que dança com graciosidade e paixão sob o luar”.

Também são feitas referências à “encantadora cidade do Funchal”, onde “cada esquina revela uma nova narrativa, uma nova camada de complexidade humana que me cativa e inspira”, e, por outro lado, cada personagem representa uma das múltiplas facetas do ser humano.

O texto, cujo título é “Do Fim ao Infinito: Uma Viagem Pelas Ruas do Funchal”, tem precisamente 3092 carateres e termina assim:

“À medida que regresso ao meu refúgio literário, reflito sobre as infinitas possibilidades contidas nas histórias que me rodeiam. Cada pessoa, cada rosto, é um capítulo único no grande livro da vida, esperando para ser descoberto e compartilhado com o mundo. E assim, entre as ruas do Funchal, encontro inspiração para mais uma semana de reflexões, emoções e descobertas na minha jornada de ‘Do Fim ao Infinito’”.

É bonito, não é?

Mas é falso! Completamente falso!

Não sou eu.

Da minha parte, tudo o que hoje tenho para vos dizer que é quando a beleza caminha à minha frente, a imortalidade morre um pouco mais dentro de mim... Há várias semanas que ando com esta frase na cabeça... Quando a beleza caminha à minha frente, a imortalidade morre um pouco mais dentro de mim...

E daqui não saio.

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